sábado, 25 de agosto de 2007

Olhando para o outro lado.... do mundo (4)


Como já disse o Gabriel, a arquitetura feita no Japão merecia um blog exclusivo... é muita coisa boa feita na terra do sol nascente.

Encontrei em uma Wallpaper -excelente revista sobre arquitetura, design, viagens...- o trabalho do Kochi Architects Studio, escritório fundado em 2003 cujo o titular é o jovem Kazuyasu Kochi de apenas 34 anos de idade que trabalha em parceria com o engenheiro estrutural Yukihiro Kato.


Nas fotos a casa KN, fiquei bobo com o corte diagonal na caixa... formando um terraço.... simples e lindo, como a boa arquitetura e a vida devem ser.

Site dos caras, em inglês: http://www.kkas.net/
Bom divertimento!


sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Um ano entre cervejas, pranchetas e teclados...


Me dei conta há poucos dias, e já um pouco atrasado, que este blog completou seu primeiro aniversário. Começou uma maneira de reunir amigos que estavam distantes e gostavam de conversar sobre arquitetura e os primeiros textos tinham ares mais sérios, demonstravam nossa insatisfação com nossas cidades, com a maneira que alguns "colegas" se prostituem e depois agem como o guri que quebra o vaso e põe a culpa no cachorro... seguiu essa linha por um breve período.

Depois de algum tempo o Gabriel passou a enviar novos textos, com ares mais boêmios...
Eu gostei muito da idéia de colocar no blog o que geralmente era assunto de boteco: novos arquitetos que descobríamos, novas obras em nossas cidades, filmes que havíamos visto e gostado... enfim, o que temos enviado nestes últimos 6, 8 meses...

Hoje vi que passamos das 2.800 visitas, neste período de um ano... pessoas das mais diversas partes do mundo que se interessam por arquitetura e nos deixam bobos com suas visitas e sua atenção. Obrigado à todos que nos ajudam e nos motivam a continuarmos nossas conversas virtuais de bar.

Abaixo o primeiro texto deste blog, cada vez mais atual.


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Quarta-feira, 9 de Agosto de 2006


muitos fachadistas, alguns construtores e poucos Arquitetos...

Em 1951 o Dr. Lucio Costa escreveu um texto à pedido de Carlos Drummond de Andrade intitulado “Muita construção, alguma arquitetura e um milagre.”

Pois bem, passados mais de 50 anos e sem pretensão maior do que prestar uma homenagem ao mestre parafraseando seu texto, as coisas estão pretas… acho que o próprio Dr. Lucio ficaria apavorado com a situação atual da arquitetura brasileira ou sob uma análise mais triste, sobre a situação atual do arquiteto brasileiro.

Não sei precisar se a culpa é do número excessivo de faculdades de arquitetura (há uma em cada esquina e muitas delas verdadeiros caça-níqueis), se é da crise econômica e social que há vários anos assombra nossas famílias ou se é a crise de valores que tomou conta da nossa sociedade, o que eu sei é que a quantidade de pessoas que recebem o título de arquiteto e depois nada fazem por merecê-lo é impressionante.

A quantidade de fachadistas que às vezes até chegam à belas formas, porém com péssima arquitetura.
Da janela do meu escritório eu vejo um senhor edifício todo envidraçado com orientação NORTE-OESTE, recebendo mais sol do que se possa imaginar, e sem nenhuma barreira de contenção solar… e dá-lhe ar condicionado e cortinas fechadas… e se era para as cortinas ficarem fechadas, pra que a pele de vidro??? fachadistas… arquitetura se resume para eles e seus clientes a uma fachada, afinal quem disse que uma construção precisa ser habitada por alguém?

Os fachadistas tem suas fases, algumas vezes enfeitam (ou enfeiam) seus projetos com materiais da moda, já passamos pelo fulget, pelo alumínio, pelas peles de vidro… outras vezes chegam ao auge de projetar edifícios neo-clássicos com 30 pisos de altura (vertical assim como a mãe deles deve acreditar que a arquitetura clássica seja), arquitetura greco-romana da melhor qualidade, com frisos, frontões e se bobear até umas estátuas de leões na entrada claro tudo com o conforto da tal automação, sensores de presença, fechaduras biométricas e esquadrias biônicas, porém tudo muito clássico…

Também existem os construtores, aqueles que acham que arquitetura é aprovar “as plantas” na prefeitura e depois empilhar tijolos da maneira mais conveniente, algumas vezes os construtores se travestem de fachadistas “é só colocar um granito na fachada e uns frisos que está resolvida a planta”, pra que se preocupar com a linguagem arquitetônica, com a orientação solar, com o modo de vida dos clientes ou pior, pra que se preocupar com a cidade?

E existe uma espécie quase em extinção, os Arquitetos (com A maiúsculo)… o Gabrielito um dia me disse que Arquiteto é igual a condutor de bonde, um dia vai sumir e ninguém vai lembrar deles.

Os arquitetos são aqueles que se dedicam com amor a arquitetura, que se dedicam com amor a realizar as aspirações dos seus clientes, e não necessariamente para ser Arquiteto precisa fazer boa arquitetura sob aspectos estéticos, compositivos e formais, nem sempre a gente acerta, algumas vezes as restrições impostas pelo cliente, sejam elas econômicas ou culturais, nos impedem de realizar nossos sonhos arquitetônicos, mas Arquitetura é mais do que uma fachada, é bem mais do que uma fachada… Arquitetura é uma atitude perante a cidade e a sociedade.

Hoje no Rio Grande do Sul, devem se formar perto de 500 novos arquitetos por ano e destes quantos serão Arquitetos? pelo que eu tenho visto pelas nossas cidades o Gabriel pode ter razão.

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Olhando para o outro lado do mundo (3): Quanto é o mínimo?

Respire fundo, encolha a barriga e... seja bem-vindo.

Ah, a arquitetura japonesa, essa caixinha de surpresas... dava pra fazer um blog só falando dela. Lá, onde os espaços são exíguos - e caros, o talento dos arquitetos sobressai em aproveitar cada centímetro quadrado de espaço - muitas vezes com resultados supreendentemente bons. Como nessa casa, projeto de Waro Kishi, outro dos "menos conhecidos" da turma do lado de lá que, na década de 90, fez vários projetos em lotes de testadas incrivelmente pequenas. E quando digo "pequenas" não falo desses terreninhos urbanos de Porto Alegre, com 6,60m de largura, para os quais os arquitetos torcem a cara e acham "apertados" (eu fora, pois, pessoalmente, acho que lotes estreitos rendem excelentes projetos, seja para que uso for... quer me ver feliz? me dá uma nesga de terra): Essa casa, construída em 1993 no bairro de Nipponbashi, Osaka, tem DOIS METROS E MEIO de largura... e, sim: Lá dentro se vive com dignidade e há espaços de singular beleza. Vi esse projeto em uma "Le Croquis" na biblioteca da faculdade enquanto estudava e nunca mais esqueci. A estrutura é simplésima, um delicado esqueleto metálico, vedado nas laterais com peças de concreto que conhecemos como lajes "roth", normalmente usadas como piso, encaixadas nos perfis "I" dos pilares... generosos panos de vidro enchendo de luz o interior... um show de simplicidade.
Dá uma olhada no site do cara, a produção dele é bem boa: http://k-associates.com A casa está na parte de projetos residenciais.

segunda-feira, 13 de agosto de 2007

Niemeyer... rumo aos 100!


No ano em que Oscar Niemeyer completa 100 anos não é de se estranhar as constantes matérias e homenagens que o mestre modernista recebe por todo o mundo (no Brasil com menos expectativa do que a que houve para o milésimo gol do Romário).

No dia primeiro de agosto o nas terras da rainha o The Guardian publicou sensacional matéria sobre a obra e principalmente sobre o homem Oscar Ribeiro de Almeida Niemeyer, falando sobre sua amizade com Fidel Castro... citando a visita de Gropius a Casa das Canoas...

"Walter Gropius came to see me at my house at Canoas above Rio. I designed it in a sequence of natural curves to flow in and out of the existing landscape. He said, it's beautiful, but it can't be mass-produced. As if I had intended such a thing! What an idiot."

...e falando sobre o convite que o presidente de Angola fez para que ele projete a nova capital do país, quatro vezes maior do que Brasília... e Niemeyer sorri quando se refere a este novo trabalho, sorriso de criança que não cansa de brincar...

Além do The Guardian, recebi semana passada a edição julho/agosto (ed. 905) da italiana Domus que dedica 12 páginas à Casa das Canoas, a qual chamam de Casa da Vida... e destacam a modesta frase do autor:

"A casa é modesta, mas o lugar é lindo"

Casa que foi construída como morada do Arquiteto em 1951 e hoje é abriga parte da Fundação Oscar Niemeyer.

E para completar a semana haverá a homenagem na popular Festa do Peão de Barretos, cujo o Arquiteto projetou a Arena de Rodeios (para os mais conservadores em forma de ferradura, para os que conhecem a obra dele, uma homenagem à anatomia feminina) e também desenhou um dos cartazes de divulgação do evento (2005).

Nietzsche estava certo no seu livro Humano, demasiado humano quando escreveu que a profissão é a espinha dorsal da vida, e Niemeyer através da Arquitetura, através de sua espinha dorsal... se tornou imortal há muito tempo, merecendo não só estas homenagens pelo seu centenário, mas sim homenagens feitas por muitas gerações que virão.

Só espero que o gol 1.000 do Romário não continue sendo mais lembrado do que a obra e a importância do herói modernista...


Link para a entrevista do The Guardian: http://arts.guardian.co.uk/art/architecture/story/0,,2139073,00.html#article_continue

Link para o site onde trata da homenagem feita pela festa de peão, onde há fotos da arena:
http://www.independentes.com.br/2006/link.php?xopcao=0708

Link para a fundação Oscar Niemeyer, direto para a Casa das Canoas:
http://www.niemeyer.org.br/canoas/canoas.htm

sábado, 11 de agosto de 2007

Olhando para o outro lado.... do mundo (2)

Aproveitando o ótimo texto do Gabrielito sobre o arquiteto japonês Shin Takamatsu eu dou a dica para o site do Atelier Bow-Wow dos arquitetos Yoshiharu Tsukamoto e Momoyo Kaijima, iniciado em 1992 em Tóquio.

Trabalho bacana dos caras, com especial atenção às pequenas casas, como a premiada Mini e a estreita Tower.


Site bacana, alguns projetos com plantas e cortes para um melhor entendimento... http://www.bow-wow.jp/index.html

As imagens são da Juicy House, projeto de 2005.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Olhando para o outro lado... do mundo.

Kirin Plaza, Osaka (1987)


Meu cunhado tem o saudável hábito de adquirir filmes em DVD, ao invés de somente consumí-los como que mercadoria descartável, pegar na locadora, ver, devolver... pronto. E o faz com títulos que considera significativos, principalmente com muita coisa dos anos 80, década por cuja cultura compartilhamos da mesma admiração. Freqüentemente, quando o visitamos, assaltamos sua DVDteca, e na última remessa, levamos pra casa seu recentemente adquirido "Chuva Negra" ("Black Rain", EUA 1989). Trata-se de um ótimo thriller policial, com Michael Douglas e um iniciante Andy Garcia como protagonistas, dois policiais nova-iorquinos que recebem a ingrata missão de escoltar um assassino japonês de volta a Osaka. Lá chegando, são ludibriados e o prisioneiro escapa, levando-os a ter contato com o perigoso submundo da Yakuza, a máfia japonesa, além de encararem o choque de realidade entre a rigidez e perfeccionismo da polícia japonesa, a contrastar com seu desleixo e desprendimento. Enfim, não vim aqui contar o filme, mas fica a dica em mais um "semi-momento" pipoca. Ridley Scott faz, em termos estéticos, uma espécie de "revival" de uma de suas obras-primas, "Blade Runner", mostrando uma Osaka escura e enfumaçada, explorando cenários industriais, soturnos e sombrios.

Ocorre que parte da ação se passa no luxuoso Kirin Plaza, hotel no centro de Osaka, projetado por Shin Takamatsu e concluído em 87, edifício de incomum e intrigante beleza, que reconheci de imediato. Takamatsu, embora não tão conhecido como outros conterrâneos como Arata Isosaki, Toyo Ito, Tadao Ando, Kenzo Tange ou Hiroshi Hara, é um dos mais proeminentes representantes da arquitetura japonesa. Despontou para o mundo no auge do pós-modernismo, período que se reflete no ultraje da forma supreendente deste hotel de luxo, um objeto de design refinado por dentro e por fora, que, sem deixar de fazer referência a alguns elementos da arquitetura tradicional japonesa, antecipa em mais de 20 anos a tendência dos "design hotels", hoje uma febre, assinados por figurinhas carimbadas como Starck e cia.
Takamatsu me foi apresentado nos assessoramentos de Composição de Arquitetura II, no longínquo 1995, pelo prof. Rufino Becker, que chamou a atenção principalmente para um recuruso incomum ao qual recorria com certa freqüência: O estabelecimento de um eixo de simetria horizontal na fachada da edificação, que criava uma espécie de "golpe de vista", replicando, a partir de uma certa altura, elementos que nasciam do chão com o edifício. Esta mesma composição pode ser vista em outras obras de Shin Takamatsu do mesmo período, embora sua produção a partir da década de 90 tenha assumido contornos neo-modernos, em seguimento à tendência mundial, embora sem deixar de causar surpresa e espanto com formas inusitadas e por vezes um certo exagero, herança de um passado pós-moderno que insiste em se manifestar.
Mais sobre o cara: http://www.takamatsu.co.jp/
Querendo se hospedar, exercite seu japonês: http://www.kirin.co.jp/

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Na passarela... Frank Gehry

Já faz algum tempo que tenho vontade de escrever sobre esse arquiteto canadense que para os que são do meio dispensa apresentações, para os que não são esse cara foi vencedor do Pritzker, da medalha de ouro do RIBA (entre outros tantos prêmios) e é considerado -por alguns- um revolucionário da arquitetura contemporânea... principalmente depois da conclusão das obras do Guggenheim de Bilbao (foto acima), do Walt Disney Concert Hall e da Dancing House em Praga, obras que colocaram de vez na mídia geral um trabalho que começou em 1962 e que em 1984 já esboçava um modo diferente de ver o mundo, demonstrado no Museu Aeroespacial da California (foto abaixo).

Gehry é um dos maiores exemplos de arquiteto popstar... já foi alvo de reportagem da revista Rolling Stone, já teve participação nos desenhos dos Simpsons (!), e um documentário, chamado Sketches of Frank Gehry, realizado por Sydney Pollack (oscarizado por Entre Dois Amores). Gehry é um gênio e sabe disso.

Em uma entrevista à revista SUMMA+, realizada em 1997 durante as obras do Guggenhein de Bilbao, quando perguntado se ele acreditava na importância do espaço de um museu para a percepção da obra de arte por parte do espectador, ele respondeu: "Tu acreditas nessa merda toda de que um museu de arte deve ter paredes neutras e brancas?" e seguiu... "...o cliente me pediu que fizesse salas que provocassem os artistas a comprometerem-se com elas, que incitassem... Para usar o exemplo de Frank Lloyd Wright, ele disse: Faço assim para provocar."

Aproveitando que o próprio Gehry fez referência a Wright é fácil fazer uma relação entre eles, os dois se chamam Frank, têm um Guggenheim como sua obra principal, ousaram misturar elementos da arquitetura japonesa com a sua arquitetura e têm certa arrogância que fazem da sua profissão sua identidade, não admitindo discussões quanto às suas opiniões.

Frank por Frank ainda sou muito mais Wright...

Abaixo links para a participação do Gehry nos Simpsons... imperdível!!!

http://www.truveo.com/frank-gehry-in-simpsons/id/542516559