Arquitetura tamanho A4
como diria Herbert Vianna... "a nova velha forma do desastre".
Com a tarefa de buscar um material na secretaria do curso de arquitetura e urbanismo da UnB, como estou fazendo uma especialização lá no campus mesmo, aproveitei o horário após o almoço.
Cheguei um pouco adiantado, a secretaria abria às 14h, meu G-Shock marcava 13h30. Aproveitei para circular um pouco pelo ICC, o Instituto Central de Ciências, popularmente conhecido como "minhocão", pelos seus singelos 700m de extensão de uma ponta a outra. O campus da UnB é um lugar bem agradável.
Próximo a uma dessas pontas, se localiza a arquitetura. Estive lá pela primeira vez em 1994, quando ainda nem sonhava em morar em Brasília, no ENEA. Entre palestras, cervejas, festas e jogos do Brasil na copa do mundo exibidos num telão, lembro de ter participado da oficina de "maquetes processuais", ministrada pelo Fernando Lara (vejam aqui seu ótimo blog, "Parede de Meia"). Foi muito interessante, já que até então (2o. semestre do curso na UFRGS) haviam me vendido o peixe de que a maquete era para apresentação, porém aprendi ali que ela ajuda, e muito, na concepção do projeto, prática que adotei durante toda a faculdade e, algumas vezes, na vida profissional.
Voltando à FAU-UnB: Bateu aquela nostalgia dos tempos de faculdade. Pessoal animado, todas as tribos representadas, dos mauricinhos aos bicho-grilos (um garoto dedilhava a fatídica "Stairway to Heaven" num violão surrado, próximo ao centro acadêmico)... Mas, de cara, o primeiro sinal de que alguma coisa estava errada: Ninguém carregava canudos (!). Será que eu estava no lugar certo? continuei a vagar pelo vão central do minhocão, observando as salas até que resolvi entrar num ateliê que estava aberto.
Lá dentro, mesas e mais mesas de desenho... nenhum projeto pelas paredes (aliás, nem lá e nem em lugar nenhum)... e alguns alunos da arquitetura trabalhando compenetrados em seus... laptops! alguns discutiam entre si seus projetos... impressos em folhas A4! Argh!
Cadê o papel manteiga? o grafite 2b? o lado da mão sujo de grafite? lápis de cor, então... nem pensar. Se alguém perguntar pela aquarela e pelo canson... Esses tempos, parei pra pensar que apresentei meu último trabalho acadêmico totalmente desenhado à mão em 1997. Foi o P3, um conjunto de casas. Acompanhava uma maquete, modéstia à parte muito bem executada em papel escuro que se assemelhava a um eucatex, só que mais mole, e color plus preto para os vidros, com os caixilhos cirurgicamente desenhados com lápis de cor branco. Porém, em TODOS os projetos finalizados no computador, fiz questão de inserer desenhos a mão, normalmente feitos em papel manteiga e cuidadosamente escaneados para inserir nas pranchas do AutoCAD.
Então... isso tudo sumiu em 12 anos?
É difícil escrever nesse tom de desabafo para um cara que, por incrível que pareça, é um entusiasta da informática e da tecnologia. Eu mesmo me beneficiei muito dela, na faculdade e depois dela. Porém, nunca me afastei do desenho, que foi o que me levou à arquitetura.
Arquitetura sem rabisco não existe, mas infelizmente, parece que ele está sendo deixado de lado, em nome da "produtividade", ou coisa que o valha. Acho totalmente pertinente para o profissional que, com o projeto valendo cada vez menos, precisa se desdobrar para... humm... "maximizar" o seu tempo... além do mais, a computação gráfica evoluiu horrores, e é incrível o que se faz hoje em matéria de apresentações, realidade virtual e outras traquitanas. Porém, na academia é outra história. Haverá quem me chame de romântico, saudosista, quiçá retrógrado... porém, não abro mão: Pra aprender a projetar, tem que desenhar. E desenhar muito. De preferência, a grafite.
Sei que isso não acontece só na UnB. Sei, mas confesso que não quero acreditar, mas quando a gente vê a coisa "in loco", se desanima... É uma pena, mas parece que estamos assistindo à morte do desenho nas escolas de arquitetura. Minha esperança são os professores "old school". Porém, quando eles se aposentarem... aí sim, tudo estará perdido e estaremos, definitivamente, deixando de formar arquitetos para formar ótimos "cadistas".