O cliente sabe o que quer?
Pois bem, comecei o projeto e captei que o que o cliente desejava não era a linguagem formal dos castelos ou das casas com torres e telhadinhos para neve, o que ele desejava era uma imagem de tradição. Uma imagem que representasse os mais de 20 anos de existência do seu restaurante tipicamente italiano. E com isso em mente comecei a fazer exatamente o que o cliente havia me solicitado, mas do meu jeito.
O resultado foi um projeto de linguagem contemporânea composto por três prismas retangulares de alturas diferentes, sendo o mais alto composto por dois pavimentos onde no térreo abriga as cozinhas e a copa; o mais baixo abrigando o salão principal e o de altura intermediária, um volume de madeira que abriga na sua parte frontal a sala de espera e recepção, no seu centro os sanitários e na sua parte anterior um pequeno salão para eventos que pode ficar interligado ao salão principal, ampliando a capacidade do restaurante para mais de 120 pessoas.
Em contraponto às linhas retas e formas puras da arquitetura contemporânea quase a totalidade dos materiais de construção empregados e de acabamento foram provenientes de demolições de velhas casas da região da serra gaúcha. Os tijolos, as madeiras, os barrotes de sustentação do telhado e as aberturas pivotantes foram todas reaproveitadas de velhas construções de arquitetura tradicional italiana, inclusive com a particularidade da porta de entrada principal e sua bandeira com vitral multicolorido serem da antiga casa dos pais do proprietário, onde o mesmo se criou.
Somado a isso a ambientação ficou a cargo do proprietário, que é um colecionador compulsivo de objetos de antiguidade, dos mais variados tipos, desde cartazes de propagandas antigos até lampiões e ferramentas quase seculares, objetos estes que tomaram conta do espaço interno da edificação criando um clima aconchegante e impar.
Moral da história, os clientes não sabem realmente o que eles querem e é função do arquiteto mostrar as possibilidades de um projeto e conduzi-lo da maneira mais adequada possível. Hoje meu cliente diz que ele nunca imaginou sua pizzaria assim, mas vendo ela pronta não faria de outra maneira.
Algumas vezes temos a oportunidade de intervir e abrir um leque maior de possibilidades que o cliente sequer imaginava e isso está na nossa função como arquiteto, é muito simples e cômodo colocar a culpa no cliente ou no mercado para isentar nossa incompetência profissional. Abaixo algumas imagens do que era para ser um castelinho.)
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