sábado, 12 de maio de 2007

Chico Buarque, Pink Floyd, Fernando Meirelles, Tom Jobim…

No ano 2000 foi lançado um livrinho comemorativo chamado “Poemas, testemunhos, cartas”, homenageando Niemeyer, então com seus 93 anos. Uma coletânea de textos e depoimentos sobre ele e sua obra, edição esgotada, mas quem tiver oportunidade de lê-lo é emocionante.

Dentre estes textos o mais sensacional é do ex-estudante de arquitetura Chico Buarque.

SIM! Chico é uma das muitas personalidades que passaram pelas pranchetas de uma faculdade de arquitetura (de memória: Tom Jobim, Francis Hime, Fernando Meirelles, Guilherme Arantes e até os integrantes do Pink Floyd foram estudantes de arquitetura, além de outros muitos) e acabaram se realizando em outra Arte, música, cinema, teatro…

O próprio Chico no vídeo mais abaixo diz: “O sujeito que tinha alma de artista ia estudar o que?”

Pois bem, abaixo transcrevo o lindo texto do Chico:

A casa do Oscar, por Chico Buarque

A casa do Oscar era o sonho da família. Havia o terreno para os lados da Iguatemi, havia o anteprojeto, presente do próprio, havia a promessa de que um belo dia iríamos morar na casa do Oscar. Cresci cheio de impaciência porque meu pai, embora fosse dono do Museu do Ipiranga, nunca juntava dinheiro para construir a casa do Oscar. Mais tarde, num aperto, em vez de vender o museu com os cacarecos dentro, papai vendeu o terreno da Iguatemi. Desse modo a casa do Oscar, antes de existir, foi demolida. Ou ficou intacta, suspensa no ar, como a casa no beco de Manuel Bandeira.

Senti-me traído, tornei-me um rebelde, insultei meu pai, ergui o braço contra minha mãe e sai batendo a porta da nossa casa velha e normanda: só volto para casa quando for a casa do Oscar! Pois bem, internaram-me num ginásio em Cataguazes, projeto do Oscar. Vivi seis meses naquele casarão do Oscar, achei pouco, decidi-me a ser Oscar eu mesmo. Regressei a São Paulo, estudei geometria descritiva, passei no vestibular e fui o pior aluno da classe. Mas ao professor de topografia, que me reprovou no exame oral, respondi calado: lá em casa tenho um canudo com a casa do Oscar.

Depois larguei a arquitetura e virei aprendiz de Tom Jobim. Quando a minha música sai boa, penso que parece música do Tom Jobim. Música do Tom, na minha cabeça, é a casa do Oscar.



Imagem do início do texto: acesso do antigo Colégio Cataguases, hoje Escola Estadual Manuel Inácio Peixoto, que o Chico se refere… projeto de O. Niemeyer - 1.944.

* Deixe seu comentário, não é necessário registro, não custa nada e nos faz feliz…

2 comentários:

  1. Acho que Chico nunca experimentou na sua real intensidade a vivência e o desconforto de morar numa das esculturas de Oscar. esculturas sim, projetos de arquitetura jamais!
    Jorge

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  2. Jorge, respeito a tua opinião, mas não concordo muito com ela... não sei se tu és arquiteto ou estudante de arquitetura, mas a obra do Niemeyer vai bem além dos esculturais projetos que tem estampado as revistas.

    Sugiro a leitura de um dos últimos textos do blog:
    http://arquis.blogspot.com/2009/07/toda-arte-e-uma-revolta-contra-o.html

    E deixo o espaço aberto para o debate.
    abraço
    luciano

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