sábado, 23 de setembro de 2006

arquiteto, a profissão mais antiga da humanidade?

Lembro que em 1997 (ano em que comecei a ser Arquiteto) passou pela Faculdade de Arquitetura da PUC.RS uma exposição com parte da obra do mestre Oscar Niemeyer e entre suas linhas escultóricas e lindas mulheres nuas, desenhadas certamente em momentos saudosos, havia uma frase escrita a punho “O importante não é a arquitetura, mas sim a vida, os amigos e este mundo injusto que devemos modificar”.

Passaram quase 10 anos e percebo que a célebre frase do mestre é mais do que verdadeira, se não mudarmos este mundo de merda em que vivemos não será possível fazer uma boa arquitetura.

A boa arquitetura nasce com um bom cliente, amadurece nos riscos de um bom Arquiteto e se concretiza através das mãos de bons pedreiros, carpinteiros… Porém cada dia é mais raro encontrar qualquer um deste tripé.

Bons profissionais da construção civil já faz tempo que são raros, falta qualificação profissional e sobra pressa para terminar o serviço e partir para outro… problemas de base, quanto a bons clientes também é um problema conhecido a falta de informação e cultura da nossa sociedade que tem como conseqüência edificações de tremenda pobreza arquitetônica, isso para não falar nos NEOs…

Porém escrevo para tratar dos arquitetos ruins e não vou dizer que arquiteto ruim é apenas aquele que faz má arquitetura, mas também (e pior ainda) aquele que impede os outros de fazerem boa arquitetura e prostituem o mercado.

Faz pouco um cliente ficou incomodado, pois eu lhe havia entregado um projeto e lhe estava cobrando parte dos meus honorários e ele me argumentava que um amigo dele, dono de uma pequena construtora, realizava seus projetos com um escritório de arquitetura que só recebia pelos projetos depois de viabilizados, o conhecido “projeto de risco”, e que este escritório já havia realizado mais de 30 projetos de risco e que havia se dado bem, porque já haviam recebido por 4 deles (!), gostaria de saber qual empresa ou pessoa aceitaria trabalhar todo um ano e receber por apenas um mês e meio de trabalho, trabalhando os outros dez meses e meio de graça, pois é essa a proporção e o pior, segundo o ponto de vista do meu cliente eles haviam se dado bem!!!

Como competir com isso? Como os Arquitetos podem cobrar pelo seu serviço, pagar o aluguel do escritório, a conta de luz, a desenhista, os computadores, os softwares, a sua formação e ainda sustentar suas famílias se há profissionais (ou pseudoprofissionais) que fazem o serviço de graça? Como explicar para um cliente que ele tem que pagar pelo projeto, se há colegas com invejável situação financeira (pois apenas sobrando dinheiro para poder financiar projetos para terceiros) que aceitam receber só caso a obra seja vendida.

Não muitos anos atrás a reclamação era sobre a redução dos honorários dos serviços de arquitetura… Agora é ainda pior, já não é necessário pensar se os honorários são miseráveis, é necessário pensar se vamos receber pelo nosso serviço, já que alguns colegas trabalham de graça.

Realmente arquiteto é a profissão mais antiga da humanidade, porém acho que o nome era outro.

E os Arquitetos (com A maiúsculo) vão sucumbindo também graças a mais este câncer.

luciano.