domingo, 16 de outubro de 2011

Momento Pipoca :: Medianeras


Na última semana estive em Buenos Aires... e entre longas caminhadas, bifes de chorizo e Fito Paèz eu fui ao cinema assistir o encantador Medianeras, um imperdível filme argentino dirigido por Gustavo Taretto e protagonizado pelo talentoso Javier Drolas (Martin) e pela linda Pilar López de Ayala (Mariana)... de lambuja a cidade de Buenos Aires é uma coadjuvante com atuação digna de levar o Oscar... 
A história é um retrato que todos conhecemos, dois jovens que vivem solitários em meio a uma grande cidade... ELA é arquiteta, mas nunca construiu nada... trabalha decorando vitrines de lojas e chega ao extremo de ter uma relação platônica com um dos seus manequins de plástico...  ELE é um webdesigner que logo nos primeiros minutos faz um sensacional monólogo culpando a cidade, os edifícios e os arquitetos por todas as fobias que ele desenvolveu com o tempo... (monólogo que deveria ser escutado por todos os arquitetos)
Martin passa horas e horas no video game e no computador... encontra pessoas que conhece em chats e em certo momento dispara uma pérola, “pessoas que conhecemos na internet são como os lanches do Mc Donald’s, na foto sempre parecem melhores do que ao vivo...” 


Mariana às vezes dribla a solidão com um livro da série Onde esta Wally? (que inclusive inspira o cartaz do filme) e quando não encontra o simpático personagem de gorro e cachecol pensa, “se mesmo quando eu sei o que estou procurando não consigo encontrar, como vou encontrar o que estou procurando se nem sequer eu sei como é?”


Ambos vem de relacionamentos que não deram certo e fazem de tudo para encontrar o seu “certo alguém”... eles aparentemente são feitos um para o outros e embora vivam na mesma quadra e separados apenas por duas empenas (em espanhol, medianeras) eles não se conhecem... e por aí se desenrola uma bonita história...
Ok, sei que parece uma trama simples demais, batida demais, revisitada por muitos... e talvez por isso o filme tenha ainda mais méritos, porque mesmo sem um roteiro original ele é ímpar. A influência de Woody Allen no trabalho de Taretto é explicita... está nos diálogos, na delicadeza do uso dos elementos visuais secundários e no humor urbano e às vezes ácido... nem se Allen fizesse um remake em NY ficaria com tanta cara de Allen... além disso a trilha sonora tem um o clássico Marvin Gaye e ainda me apresentou Daniel Johnston com a simpática True Love Will Find You in The End...
Se estiver passando no cinema da sua cidade, não perca... se não estiver dê um jeito de encontrá-la para baixar na internet... o filme é lindo demais e merece ser visto... não foi por nada que já arrebatou um montão de prêmios, inclusive o de melhor longa estrangeiro, escolha popular e também de melhor direção no festival de cinema de Gramado... 
Link para o site oficial do filme:

Link para o trailer do filme: 
http://www.youtube.com/watch?v=_kBGW1RqUvQ&feature=related


P.S.: Que sejam bem vindos os ares da primavera, por aqui o inverno foi duro... 

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Álbum de Figurinhas :: VitraHaus

Há algumas semanas escrevi sobre o campus da Vitra na simpática cidadezinha de Weil-am-Rhein (link aqui)... depois escrevi especificamente sobre o VitraHaus, um prédio projetado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron (link aqui) e prometi que um dia faria um lazy post só com fotos dessa obra... pois é, sou fui um guri de palavra, hoje é dia de álbum de figurinhas da VitraHaus... 


Como de costume, se quiserem usar as imagens podem ficar à vontade... e se citarem a fonte ficaremos tri faceiros!!!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

La Ciudad de las Artes y las Ciencias de Valencia :: Santiago Calatrava

A bela estação de trem de Valência, à esquerda a plaza de toros
Eram sete da manhã e eu estava tão feliz por mais uma vez estar desembarcando em Barcelona que duvido que algum dos funcionários do El Prat pudesse imaginar que meu vôo desde o Qatar havia durado toda a noite e que sentado ao meu lado veio um cara que quando não estava roncando igual ao Zé Colméia, estava mascando uma espécie de tabaco e cuspindo num copinho... mas acreditem em mim, ouvir novamente Benvingut é um baita remédio para curar o mau humor.

No aeroporto tomei um ônibus até a plaza Catalunya, caminhei até o hostel e depois de um bom banho quente sai para revisitar alguns lugares que gosto muito... dei uma volta  na praia... re-vi Gaudi, Mies, Isozaki... e quando me dei conta já era fim de tarde e eu estava em um boteco comendo tapas, tomando copas de cava e conversando com novos amigos. Foi em uma dessas conversas que me perguntaram “tu já conheces tão bem Barcelona, por que está aqui de novo? há tanto para se conhecer por aí...”, pergunta difícil... respondi no dia seguinte quando peguei a minha mochila e fui para Valência...
Por cerca de quarenta Euros se vai de trem de Barcelona à Valência e depois de mais ou menos três horas de belas paisagens se chega à estação Nord, juntinho à Plaza de Toros e não muito longe do parque Jardin del Turia. Um enorme parque linear que cruza a cidade e ocupa sete quilômetros do que outrora foi o leito do rio Turia...
 Ciudad de las Artes y las Ciencias - Na frente o enorme Palácio de Artes Reina Sofia
Para quem nunca ouviu falar nesse rio, eu vou contar o que me contaram: o rio Turia estava dentro do tecido urbano e em 1957 houve uma grande enchente cujo os estragos foram suficientes para os valencianos se emputecerem e construírem um grande canal de concreto para desviá-lo do centro da cidade... a primeira intenção de uso para o leito seco foi construir ali uma autopista, porém a população pedia por mais espaços verdes e com o passar dos anos os sete quilômetros foram sendo tomados por jardins e praças... até que em 1986 oficialmente se torna o parque que hoje abriga inúmeras atividades: o zoológico, o Palau de la Musica, o parque de Gulliver, o Bioparc e também la Ciudad de las Artes y las Ciencias, um conjunto de obras assinadas pelo arquiteto Santiago Calatrava, com participação do seu antigo professor Felix Candela em uma delas.
A história deste complexo é a mais ou menos assim, em 1989 um dos catedráticos da Universidade de Valência apresenta ao governo local a idéia de construir um museu de ciências no Jardin del Turia... os políticos não só gostaram da idéia como viram nela um bom motivo para colocarem seu nome na história da cidade e assim nasceu um projeto chamado de La Ciudad de las Ciencias, que deveria abrigar além do museu, um planetário e a terceira torre de comunicações mais alta do mundo, que seria o ícone do complexo.
L'Hemisféric... uns dizem que parece um olho, eu digo que parece um tatu
Dois anos depois o arquiteto valenciano Santiago Calatrava apresentou seu projeto inicial e em 1994 as obras iniciaram, sendo que o primeiro a ser feito foram as fundações da torre de comunicações... mas não é só no Brasil que política é uma coisa complicada, os partidos de oposição começaram uma forte campanha contra as obras do complexo, batendo forte e dizendo que tudo aquilo era uma obra faraônica com o objetivo de promover o partido de situação... (isso lhes parece familiar?)
No meio desta polêmica a oposição assumiu o governo valenciano e as obras foram paralisadas para que fosse revista toda a filosofia do projeto... alguns meses depois foi apresentado uma nova proposta com o nome de La Ciudad de las Artes y las Ciencias. Neste novo projeto o museu e o planetário foram mantidos e foram acrescentadas duas novas obras, um parque oceanográfico e um palácio de artes (salas para concerto e ópera), este último no lugar de onde deveria ser a icônica torre do governo anterior... aquela que já tinha as fundações prontas... 
L'Umbracle e à esquerda se vê o tatu e o museu Principe Felipe
Calatrava cobrou mais alguns milhões e em 1996 apresentou o projeto refeito, onde ele assinava o planetário (L’Hemisfèric), o palácio das artes e o museu; o arquiteto Félix Candela assinava o parque oceanográfico (L ‘Ocenogràfic). As obras foram retomadas e em 1998 se inaugura o primeiro prédio do complexo, uma enorme cobertura de aço e vidro com o formato de um grande tatu (alguns dizem que é um olho humano), sob ela há uma esfera que é o planetário e também uma sala de projeções IMAX.

Com o passar dos anos os demais prédios foram finalizados, em 1999 o Museu de las Ciencias Principe Felipe... em 2002 L’Ocenogràfic... em 2005 o Palacio de las Artes Reina Sofia e ao fim de 2009 foi inaugurado um prédio que não fazia parte do projeto inicial, a Àgora, que está entre o museu e o parque oceanográfico, e nada mais é do que uma grande praça coberta por uma estrutura metálica com uma forma que para alguns lembra uma grande genitália feminina (dependendo o angulo que se vê eu concordo com esses tarados) e que quando eu estive lá estava abrigando a quadra principal do ATP 500... 
Além destes prédios o conjunto ainda conta com a ponte de l’Assut de l’Or e com um grande passeio ajardinado coberto por arcos que é chamado de L’Umbracle, ambos assinados pelo Calatrava... para completar, ainda há a previsão da construção de três enormes torres de apartamentos no terreno contíguo ao L’Ocenográfic, também projeto dele. Estas ainda não sairam do papel devido à crise que há algum tempo preocupa a Europa... (nem a crise consegue trazer só notícias ruins).
Foto da maquete do conjunto - ao fundo estão as torres de apartamentos
Para não deixar passar em branco, essa não foi a primeira vez que visitei uma Calatravice*, já havia visitado em Buenos Aires, em Barcelona, em Lisboa... em comum vi um apelo estético muito forte que tem a capacidade de seduzir olhares desavisados, fora isso não consigo encontrar grandes qualidades na arquitetura dele... são estruturas repletas de elementos desnecessários, plantas e formas que não atendem as questões funcionais do programa... fora que muitos  dos seus volumes “orgânicos” ou futuristas são tão forçados que chegam a ser caricatos... mesmo assim as construções dele são a prova de que mesmo a má arquitetura pode render boa fotos, em breve postarei um belo álbum de figurinhas de la Ciudad de las Artes y las Ciencias.
Museu Principe Felipe e ao fundo a ponte l'Assut de l'Or e a Ágora - busquem a escala humana para ter noção do quão grande é esse encrenca... e reparem na escadaria do museu...
Mais informações sobre o complexo no site oficial: 
*Macaco, para chamar a atenção, faz macaquice... Calatrava faz Calatravice.
P.S.: Há algum tempo já havia escrito sobre o Santiago Calatrava, na oportunidade eu chamei a atenção para uma entrevista que eu havia lido no El País quando lhe foi questionado o porque o orçamento dele para uma de suas obras era de 4,5 milhões de Euros e o custo real tinha sido de 20 milhões... e ele simplesmente respondeu “fiz um cálculo que foi aprovado... a partir daí as coisas não estão mais nas minhas mãos. Meu trabalho se limita a estética...” - preciso dizer algo mais sobre ele? 

P.P.S: As imagens são de minha autoria, podem copiar, usar, distribuir... conhecimento só é conhecimento quando é disseminado.
à esquerda a Ágora, ao centro a ponte e à direita o museu Principe Felipe

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

VitraHaus :: Herzog & de Meuron

Uma das "salas" do showroom da Vitra
Não existe milagre, para fazer boa arquitetura é necessário muito estudo, paixão e transpiração... e o estudo que eu falo não é apenas o da formação universitária, mas também o que deve seguir durante toda a vida profissional... a cada novo projeto o bom profissional deve trabalhar com mais de uma possibilidade, deve realizar a leitura correta das condicionantes e do programa de necessidades e não deve ter vergonha de realizar estudos de caso. 
Em 2002, na tentativa de fazer um bom trabalho de graduação eu me dediquei ao estudo um projeto realizado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, que por coincidência um ano antes haviam ganho o Pritzker...  o projeto que eu usei como estudo de caso era a vinícola Dominus, localizada na Califórnia. Um exemplo de arquitetura minimalista com uma força visual impressionante... talvez devido à forma como mimetiza com a paisagem, talvez pelo uso inusitado de gabiões como pele da edificação... quem ainda não conhece esse projeto, eu recomendo muito: http://www.archiplanet.org/buildings/Dominus_Winery.html
Passados quase dez anos eu estava reencontrando a arquitetura dos suíços na cidadezinha de Weil-am-Rhein, interior da Alemanha, mais especificamente no Campus da Vitra Design, onde eles foram responsáveis por um novo prédio do complexo, o VitraHaus.
Área com amostras dos acabamentos possíveis e computadores para simular o resultado final

Como eu já contei em outra postagem a Vitra é uma fábrica de móveis e utensílios domésticos que possúi a licença de produção do design de monstros como: o casal Eames, Mies, Panton, Corbusier... e por aí vai... e junto à sede da empresa em Weil-am-Rhein foi construído um grande showroom dos seus produtos, o VitraHaus, com o objetivo de receber a visita não só dos seus consumidores diretos, mas também para receber pessoas que querem conhecer mais sobre a história do design ou que simplesmente gostam de passear em uma grande loja de mobiliário de primeira qualidade... coisa que, guardadas as devidas proporções, acontece aqui em Porto Alegre com a Tok Stok... (repito, guardadas as devidas proporções...)
Escada caracol, uma delas
Para resolver o que foi pedido pelo cliente os arquitetos suíços entenderam que o correto não seria apresentar os produtos em um ambiente sem identidade, mas sim apresentá-los dentro do seu contexto de uso, ou seja, dentro de uma casa... Como a linha de produtos da Vitra é muito extensa para colocar dentro de apenas uma casa, eles resolveram isso projetando nada menos do que doze (!) casas que vezes estão contíguas  e vezes estão empilhadas, seguindo uma improvável lógica geométrica nos cinco andares do prédio.
A solução espacial é brilhante, ainda mais e levarmos em conta a complexidade que tem por trás dela e que não é percebida aos olhos de um leigo... começando a visitação pelo último andar (seguindo uma lógica promenade architecturale) vai se passando por ambientes com alturas variadas... escadas em caracol... planos inclinados... e a maneira como os arquitetos enquadraram a paisagem é genial, pois se passamos de uma “casa” para outra esperamos que a paisagem também mude e é exatamente isso que acontece, hora se visualiza a rodovia... hora a vista são os outros prédios do campus... hora é a idílica paisagem dos morros que circundam a região... 
sala com mobiliário para os piás...
Complementando o programa ainda há no térreo: uma loja de pequenos acessórios e utensílios, uma cafeteria e algumas salas de reunião/negócios.
Na minha opinião o resultado é brilhante. Talvez a volumetria até possa ser questionada por alguém que ande aborrecido e mal amado... mas a qualidade espacial é digna do mobiliário ali exposto, ou seja, é inquestionável.... assim como é inquestionável que a Vitra atingiu o seu objetivo com a VitraHaus, vocês podem ver pelas fotos que havia dezenas de pessoas visitando e usando os espaços... os alemães construíram bem mais que um showroom, construíram um equipamento urbano. 

Em breve faço uma postagem estilo álbum de figurinhas... tenho muitas imagens desta obra e acho que vale a pena compartilhar.

P.S.: Estive lá em um chuvoso dia de outono, mas tenho certeza que no verão o pessoal de lá usa os gramados do Campus como se fosse um parque... certo que é lá que se toma o chimarrão das tardes de domingo.
Além de móveis, luminárias...
Link para a primeira postagem do Campus da Vitra Design: http://arquis.blogspot.com/2011/07/vitra-campus-weil-am-rhein.html
Link para o escritório dos suíços Herzog & de Meuron: http://www.herzogdemeuron.com/
Link para ótima matéria realizada pelo David Basulto para o archdaily, onde se podem ver os complexo diagramas projetuais da VitraHaus: http://www.archdaily.com/50533/vitrahaus-herzog-de-meuron/

Uma externa para quem não viu o outro post, meu primeiro contato visual depois de descer do ônibus que me trouxe desde Basel.

sábado, 27 de agosto de 2011

O Genius Loci e o Jênio Assadi...

Tem uma porção de filmes de mulherzinha que eu gosto muito... um deles é A Casa do Lago, um filme tri bem feito onde Keanu Reeves interpreta um arquiteto idealista cujo o irmão e pai também são arquitetos... o irmão é um profissional que se rende ao mercado e o pai é um famoso arquiteto que sempre foi mais arquiteto do que pai... 
Em determinado momento do filme o personagem do Keanu Reeves vai visitar o pai no hospital e este lhe mostra a imagem do projeto de um museu e pergunta o que ele acha... depois de uma rápida olhada o filho diz que lhe parece bom... então o pai, com um olhar de reprovação, lhe questiona como ele pode ter achado bom se ele nem sabia onde seria construído o prédio.... se ele não sabia qual a orientação solar do terreno, nem o clima e  muito menos as cores da região... 
A lição que ele queria passar é que se o projeto não estiver adequado ao espírito do lugar - ao genius loci, e as condicionantes que este apresenta, ele pode ser bonito sem necessariamente ser bom (assim como algumas pessoas)...
O conceito de genius loci vem desde a arquitetura clássica e foi revisto por vários arquitetos e autores contemporâneos.... Heidegger, Norberg-Schulz, Aldo Rossi... cada um à sua maneira reconheceu que o lugar é um espaço que possui caráter próprio e que o bom arquiteto é aquele que reconhece as características distintivas do lugar e interage com estas de uma forma correta e adequada... e não se tratam apenas das características geográficas, mas também das características culturais e sociológicas.... é fácil entender a importância do lugar para a arquitetura... um ótimo arranha-céu nova iorquino é um péssimo trambolho se for construído na beira da praia em Fernando de Noronha... acho que até a Sophia, minha afilhada lindona, entende isso... mesmo com três anos e meio de idade.
Porém o que até uma criança entende alguns arquitetos ignoram completamente... nossas cidades estão repletas de fachadas com má orientação climática.... de obras mal inseridas no terreno.... e se eu for falar na falta de linguagem arquitetônica adequada e ou na falta de respeito pela cultura do local este texto não vai mais terminar e eu ainda quero escrever sobre o jênio Assadi... 
Há algumas semanas eu tenho experimentado usar o Twitter... e uma das pessoas que eu seguia era o chileno Felipe Assadi (@felipeassadi)... para quem não conhece ele é um jovem e multi-premiado arquiteto (clique aqui e conheça o seu trabalho) que tem talento de sobra. A produção dele é realmente muito, mas muito boa... e desde 1997 ele também leciona arquitetura....  
E não é que este baita arquiteto, que serve de exemplo para muitos jovens estudantes e profissionais, resolveu ter uma jenial idéia???  Vejam que maravilha: quando ele chegar ao número de dez mil seguidores no twitter ele vai sortear o projeto de uma casa de 120 m2, com plantas, maquete e especificações... sendo que aos sete mil ele mostrara os croquis, aos oito mil ele publicara uma renderização, aos nove mil as fotos da maquete física e aos dez mil ele sorteara o que ele batizou de tweethouse... o projeto de uma casa que será feito sem saber em que lugar do mundo será construído, ignorando as condições naturais do terreno, fazendo pouco caso da cultura do local e desconsiderando as necessidades do ganhador do tal projeto... ou seja, ele vai sortear uns desenhos e não um projeto... perante essa idéia jenial eu não resisti e com meu espanhol, aprendido em ciudad del leste, lhe perguntei se o genius loci não era importante para a arquitetura dele... ele respondeu que o genius loci estava de folga... e depois disso, ofendido, me bloqueou. Deve ser difícil a vida de jênio... 

P.S.: Antes que alguém duvide que sou realmente alfabetizado, escrever JÊNIO é uma HIRONIA.... 

P.P.S.: Só sei usar o twitter para acompanhar notícias de futebol, mas se alguém quiser me seguir e me ensinar a usar essa encrenca: @lucianobasso

P.P.P.S.: Entendo que a tweethouse do Assadi seja uma diversão para ele... vocês já devem ter percebido que senso de humor não costuma me faltar, mas acho que teriam formas mais adequadas dele brincar.

P.P.P.P.S.: Há muito tempo o sumido Gabriel escreveu sobre filmes onde os protagonistas são arquitetos, entre eles: A Casa do Lago... vale a (re)leitura: http://arquis.blogspot.com/2008/08/architects-are-nice-guys.html

Ilustrando a postagem uma foto que tirei no Ensanche de Vallecas, em Madri... é o Vallecas 51, do Somos.Arquitetos

sábado, 16 de julho de 2011

Vitra Campus :: Weil-am-Rhein

Vista de Basel desde alguma ponte sobre o Reno, as torres da catedral e a roda gigante
Era novembro... manhã de domingo... 7 e pico da madrugada (no meu fuso particular antes das 9 é madrugada) e lá estava eu e minha mochila rumando à Gare du Nord  para mais uma vez me despedir de Paris... dessa vez o destino era uma cidadezinha localizada no noroeste da Suiça chamada Basileia ou em alemão, Basel.
Fazendo fronteira tanto com a França quanto com a Alemanha, Basel é uma cidade pra lá de simpática... cortada pelo Reno e importante pólo da indústria farmacêutica (lá estão as sedes da Novartis, La Roche...) ela é a terceira maior cidade da Suiça e se tornou meu destino por estar próxima das cidades de Weil-am-Rhein, na Alemanha e de Ronchamp, na França...
Em Weil-am-Rhein eu queria visitar o Campus da Vitra Design... e em Ronchamp o objetivo era a capela Notre Dame du Haut... até a cidadezinha alemã eu cheguei... Ronchamp virou motivo para eu voltar mais uma vez à Europa.
Panorâmica do conjunto, foto tirada de dentro da Vitra Haus
Para quem não sabe a Vitra é uma fábrica de móveis e utensílios fundada em 1950 e que hoje além de produzir móveis de designers contemporâneos como Gehry, Hadid, Foster, entre outros... também produz com licenciamento oficial peças desenhadas por Verner Panton, Jean Prouvé, Le Corbusier, Eero Saarinen, casal Eames.... se percebe que os seus produtos tem as raízes, o tronco e os galhos na modernidade. 
Endereço do Vitra Campus
Com fábricas também nos Estados Unidos, China e Japão e com um presidente que disse que: a sustentabilidade é como a moral: tem que ser vivida sem falar muito à respeito... o Campus da Vitra em Weil-am-Rhein é um parque de diversões para arquitetos. 
Em 1981 um incêndio consumiu a planta existente e com o objetivo dos novos prédios possuírem uma arquitetura com qualidade condizente ao desenho dos móveis por eles produzidos foi contratado o arquiteto inglês Nicholas Grimshaw para fazer o projeto da nova fábrica... 
VitraHaus, projeto dos suíços Herzog e de Meuron
Após a construção do prédio do Grimshaw foram contratados outros starchitects para projetar os novos prédios... Gehry fez o museu em 1989.... em 1993 foi a vez da Zaha Hadid fazer uma pequena estação de bombeiros e para o Tadao Ando fazer um centro de conferências.... depois veio uma nova planta fabril projetada pelo Siza... também foi reproduzido um pequeno posto de abastecimento projetado por Jean Prouvé em 1953.... e até foi importada de Detroit uma geodésia do Buckminster Fuller... no ano que vem (2012) será inaugurada mais um centro de produção, dessa vez projeto da Sejima/SANAA... e no ano passado foi inaugurado o show room deles no campus.... a VitraHaus, lindo projeto do Herzog e de Meuron, seus vizinhos da Basiléia...
Para chegar lá peguei o ônibus 55 na Claraplatz, em Basel, e depois de alguns minutos já estava na Alemanha e de longe avistava o Vitra Campus na beira da rodovia... logo descendo do ônibus já se percebe que os abrigos são estilosos.... e que não se chegou a qualquer endereço, mas sim à Charles Eames Straße.... 
Vitra Design Museum, projeto do Gehry
Infelizmente não cheguei à tempo de fazer uma visita guiada à todo o Campus... não pude conhecer a estação de bombeiros e nem andar dentro das plantas de produção, mas pude visitar o Vitra Museum, que abrigava uma bela exposição do Frak Gehry, pude circundar o prédio do Tadao, visitar uma exposição sobre arquitetura chinesa na geodésia e passar um par de horas na VitraHaus.
O que mais causa impacto é o museu do Gehry e o showroom da dupla Herzog e de Meuron, porém a situação do conjunto também é muito interessante... na beira de uma rodovia, sem vizinhos muito próximos... com campos e montes cobertos de verde em frente... essa postagem da uma visão geral do Campus e essa se detém na VitraHaus: http://arquis.blogspot.com/2011/09/vitrahaus-herzog-de-meuron-weil-am.html
Tadao também deixou sua marca por lá (o papagaio de pirata é amigo argentino Nicolas Bailleres)
Mais informações no site da Vitra:  www.vitra.com
P.S.: Não andava com vontade de escrever sobre arquitetura construída, mas às vezes a gente tem tanta coisa para dizer que acabamos ficando em silêncio... na verdade queria falar sobre a falta de qualidade do programa Minha Casa Minha Vida.... também pensei na falta do uso das lapiseiras nas faculdades e a conseqüência que isso trás... ou então fazer um “momento pipoca” sobre um par de documentários que vi recentemente.... quem sabe escrever sobre empatia ou sobre a falta dela... enfim... obras arquitetônicas eram a última opção, mas tudo bem... se eu falo muito sobre arquitetura é para compensar o tanto de gente que fala pouco.
P.P.S.: Sei que as fotos ficaram ruins... câmera de bolso e tempo ruim não são uma boa combinação, mas quem quiser fazer uso delas pode ficar tri à vontade e se citar a fonte fico faceiro... 

quarta-feira, 22 de junho de 2011

E.1027 + Le Corbusier, a história de uma foto.


Não adianta tu me dares o teu romance para eu ler... eu já sei que vou odiar... porque odeio ler textos ruins... e se por acaso ele for bom... vou odiar igual... porque também sou escritor e odeio quando leio um texto melhor do que os meus...
É mais ou menos assim que o Hemingway do Woody Allen responde ao escritor Gil Pendler quando este lhe pergunta se ele se importa em ler o seu manuscrito. Pendler é um roteirista de Hollywood que está passando uns dias de férias em Paris com a sua chatérrima noiva... e é o protagonista de Meia Noite em Paris o novo filme do pai do Zelig. 
E diga-se de passagem, um baita filme!!! O realismo fantástico no qual o cara que gosta de enteadas faz o espectador mergulhar é dotado de uma magia impar.... não tem como dizer que a Europa não fez um bem enorme à ele... desde Match Point ele não lembro de um filme dele que seja ruim... antes pelo contrário, Vicky Cristina -por exemplo- é uma obra de arte... mas eu não vou escrever sobre o filme... vou deixar esse Momento Pipoca para o desaparecido Gabriel... e quem sabe até o filme reprisar na Sessão do Tarde o nosso amigo tem a dignidade de retornar ao blog... volta Gabrielito!!!
Buenas, retornando à fala do Ernest do filme... ele complementa o diálogo dizendo que um escritor não deve pedir opiniões sobre o que escreve à outro escritor... pois a competição, mesmo que inconsciente, sempre vai existir... e é aproveitando essa passagem do filme que eu vou contar a história da foto abaixo... 
Le Corbusier, além de vândalo, exibicionista... 
Para quem ainda não foi apresentado, esse senhor com a bunda de fora é o Le Corbusier... arquiteto franco-suíço que ajudou a mudar a história da arquitetura moderna... talvez alguns saibam que a enorme cicatriz que ele tem na perna direita é fruto da hélice de uma lancha que o acertou enquanto ele nadava e quase tirou a sua vida... mas será que todos sabem onde o marido da dona Yvonne (que na verdade se chamava Jeanne Victorine) foi flagrado pintando um mural com as vestes que Deus lhe deu? 
Para entender toda a história primeiro temos que conhecer um carinha chamado Jean Badovici, ele estudou arquitetura em Paris após a Primeira Grande Guerra... mas foi como editor da revista L’Architecture Vivante que ele realmente se destacou. Publicada entre 1923 e 1932 a revista foi peça importante na divulgação e crítica da arquitetura moderna... Badovici gostava muito de vinhos tintos e de mulheres mais velhas e foi entre uma garrafa e outra de Cabernet que ele começou um romance com a arquiteta irlandesa Eileen Gray... filha de uma rica família que desde 1902 vivia em Paris e tinha 15 anos a mais que Badovici... desse romance, em 1924, nasceu o projeto de uma casa de férias na Riviera Francesa, à beira mar... mais precisamente em Roquebrune.... a casa E.1027.
O nome E.1027 é um código numérico para as iniciais dos pombinhos: E (Eillen) 10=J (Jean), a décima letra do alfabeto... na mesma linha, 2=B (Badovici) e 7=G (Gray).... a casa também é conhecida como Casa Branca. Finalizada em 1927, com uma planta flexível e aberta a casa se integra naturalmente ao belo entorno e se percebe na prática o resultado de um obcecado trabalho da autora em estudar e entender a incidência do sol e dos ventos sobre o terreno nas diferentes estações do ano... uma arquitetura mais orgânica e funcional.... 
Eileen era a amante de Badovici... já se destacava há tempos pelos seus projetos de mobiliário... mas ela não era um Às... e Le Corbusier era... devido ao trabalho de Badovici como editor ele e o arquiteto franco-suiço se tornaram amigos próximos e vários foram os  verões que o Corbu e a dona Yvonne (que ele chamava carinhosamente de Vonvon) passaram na E.1027...  
Corbusier, Yvonne e Badovici... tomando um tinto na E.1027
Quando Corbu, pela primeira vez, esteve na casa ele ficou encantado... escreveu uma carta à Eileen dando os parabéns pelo projeto magnifico e pela capacidade que ela de utilizar a arquitetura para maximizar a paisagem e valorizar o entorno, elogiou o desenho do mobiliário... o Hemingway do Woody diria para ela ficar com o pé atrás perante os elogios do colega... e isso seria o melhor que ela teria a fazer...


Devagarinho o encantamento pela E.1027 se tornou uma obsessão na vida do Corbusier... ele e Yvonne usavam mais a casa do que os proprietários... e com a separação de Badovici e Gray, em 1932, isso se tornou ainda mais freqüente... até que em 1937 Le Corbusier (então com 50 anos de idade), com o aval do amigo Badovici, começa a pintura de uma série de oito murais nas alvas paredes da casa... trabalho o qual ele finaliza depois de dois anos e que rende a memorável imagem dele nú pintando... 
Antes de iniciado o trabalho de restauração.... vaso ruim não quebra, o mural estava em ótimo estado
A reação de Gray não poderia ter sido muito diferente... ela classificou os murais de Corbu como um ato de vandalismo contra a sua obra e pediu educadamente que os murais fossem retirados pois feriam o espirito do projeto.... os murais não só permaneceram como Corbusier publicou fotografias da casa e dos murais dizendo que ele estava dando vida à paredes tristes onde nada acontecia... e para completar não deu os créditos do projeto à sua autora deixando em aberto o entendimento de que aquele seria um projeto seu... para a Ms. Gray sobrou comemorar durante a Segunda Guerra quando ela soube que os soltados alemães ocuparam a casa e utilizaram um dos murais para fazer tiro ao alvo... 
Em 1951 Corbusier constrói próximo à E.1027 sua Petit Cabanon e no dia 27 de agosto de 1965, aos 78 anos, ele morre durante um banho no Mediterrâneo e seu corpo é encontrado nas rochas próximas à E.1027....  quanto à morte de L.C. existe a versão de que ele estava sofrendo de depressão e em um dia ruim tirou toda sua roupa e se jogou no mar sem ter o objetivo de voltar... 
Sobre a E.1027: ela chegou a estar em estado de ruína e abandono, mas a municipalidade de Roquebrune-Cap-Martin e o governo francês a compraram e desde 2008 ela passa por um processo de restauração.... e infelizmente, devido à um ponto de vista histórico, o vandalismo invejoso de Le Corbusier deverá ser mantido. 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Parco della Musica di Roma :: Renzo Piano

Um dos três cascudões do Renzo
Foi grande a vontade que eu tive de aproveitar o dia dos namorados e escrever um texto com paralelos e interseções entre relacionamentos e arquitetura... ou até escrever sobre pessoas ligadas à arquitetura que foram casados, namorados... casos de paixões, reais ou platônicas.... Charles e Ray Eames... Affonso Reidy e Carmen Portinho... Éolo Maia e Jô Vasconcelos... Philip Johnson e Mies van der Rohe... 
Também pensei que poderia escrever sobre os arquitetos que acabaram ultrapassando a barreira profissional com suas clientes.... Frank Lloyd e Mamah Cheney.... Edith Farnsworth e Mies (olha ele aí de novo)...  
Os ganchos que eu tinha para aproveitar a efeméride eram vários, mas no final achei que um cara que há meses está sozinho não tem moral para usar o dia dos namorados como gancho... então esperei chegar o dia de Santo Antonio e como o bendito casamenteiro não me inspira nenhum gancho, vou escrever sobre arquitetura mesmo.... 





A seta amarela é a Via Flaminia, por onde eu vinha caminhando desde a Piazza del Popolo... o círculo azul é o MaXXI... o círculo vermelho é o Parco della Musica e o círculo laranja é o estádio olímpico.,, a obra redonda entre o Parco e o MaXXI é o Palazzetto dello Sport, obra do Nervi para as olimpiadas de 1960.
O último texto pseudo-arquitetônico foi sobre o MaXXI Museu, obra da Zaha em Roma e neste texto em comentei que conheci o MaXXI em uma rica tarde ensolarada na cidade das sete colinas e que havia chegado ao museu após uma caminhada subindo a Via Flaminia desde a Piazza del Popolo e que durante essa caminhada eu tive duas boas surpresas, um  Renzo e um Nervi... hoje vou escrever sobre o genovês.
Vista sob o viaduto Flaminio, o cucuruto de um dos auditórios dando ar de vida para um viajante desavisado

Acho que a primeira vez que ouvi falar sobre o Renzo Piano foi em uma aula de Tópicos de Arquitetura do professor Henrique Rocha. O Henricão foi um dos meus bons professores, um professor "de mercado"... ele é titular do escritório Santini e Rocha, responsável por todos os projetos de novos prédios no campus da PUC.RS (entre outras coisas) e um apaixonado pela arquitetura.... uma vez por semana tínhamos a aula de Tópicos, que nada mais era do que um primeiro contato com o mundo arquitetônico... centenas de diapositivos (segunda palavra bacana do texto, é pra combinar com efeméride) de obras arquitetônicas... as aulas do Henricão foram o inicio de uma importante repertorização e foi em uma dessas aulas que um dia apareceu o clássico centro Pompidou, parceria do Renzo Piano com o Richard Rogers... bah, como aquelas fotos me impressionaram... eu não entendia muito bem o que eram todos aqueles tubos do lado de fora... não entendia, mas gostava.
Espécie de loggia levando à Cavea, um anfiteatro romano que fica entre as três salas de concerto e funciona também como um grande lobby à céu aberto... rodeado por oliveiras.

Desde 1997 o tempo passou.... com o tempo passei a entender as figurinhas que o Henrique mostrava... devorei livros e revistas (fica a dica, os blogs e sites são interessantes, mas nada substitui o papel), meu repertório cresceu consideravelmente... e é uma alegria cada vez que eu encontro ao vivo uma das figurinhas que estudei!!! 

E foi isso que aconteceu quando eu subi a Via Flaminia em direção ao museu da Zaha... de repente, não mais de que de repente... vejo à minha direita o Palazzetto dello Sport, um ginásio projetado pelo Pier Luigi Nervi para os jogos olímpicos de 1960 (em uma próxima postagem falo sobre isso)... me aproximei dele... tirei umas fotos... e nova surpresa, atrás de um viaduto eu vejo o cantinho de uma cobertura de chumbo... se via realmente um pouquinho, mas o suficiente para eu saber que ali tinha algo.... parecia com a minha afilhada Sophia quando se esconde, mas na verdade que ser vista... quer ser encontrada....





Vista da sala principal (Santa Cecilia), que tem capacidade para 2800 pessoas... sob ela a arquibancada do anfiteatro romano, a Cavea.

Me aproximando encontrei uma espécie de loggia que me levou à um anfiteatro romano circundado por três grandes besouros (ia chamar de escaravelho, mas aí resolvi me conter... efeméride e diapositivo já está de bom tamanho...) ao redor várias oliveiras... bah, por acaso estava eu dentro de mais uma figurinha... o Parco della Musica, um complexo formado por três salas de concerto (Petrassi, Sinopoli e Santa Cecília, respectivamente com capacidade para 700, 1200 e  2800 pessoas) em forma de cascudos... mais: áreas de uso comum e administrativas (livraria, café, escritórios...), quatorze salas para ensaios e aulas de música e a Cavea, um anfiteatro romano com capacidade para mais 2.800 pessoas que também funciona como se fosse um grande foyer à céu aberto, uma praça de acesso... que naquela rica tarde ensolarada estava tomado por pessoas que lanchavam, almoçavam... tomavam um chianti... um espaço público com vida e uso.
Vista aérea do complexo, foto descaradamente roubada do site do arquiteto.
O ambiente era muito bom, o sol inspirava uma pausa e o horário do almoço já tinha passado... mas era novembro, cada minuto de sol era sagrado e eu ainda tinha que chegar no MaXXI... resisti bravamente à tentação e segui minha visita... agora pela parte interna... 

Não encontrei um foyer bem definido, existem grandes circulações e escadarias sob a base dos besouros... o tijolos predominam e a qualidade executiva da obra impressiona. Tentei e não consegui visitar uma das salas principais, (mas nos links do fim do texto tu podes encontrar várias imagens delas) e como pedindo, de forma educada e civilizada, para visitar alguma das salas eu não tive sorte eu não tive outra alternativa que não partir para uma segunda via... tinha viajado muito para um italiano desdentado me dizer não... então vi um grupo de estudantes saindo de um corredor com seus instrumentos encaixotados.... não pensei duas vezes, fiz a minha melhor cara de "Ho dimenticato il mio trombone" e segui pelo mesmo corredor... o que encontrei foi uma das 14 salas de ensaio... e diga-se de passagem, que bela sala de ensaio!!!
qualcuno ha visto il mio trombone?
Antes que alguém descobrisse que além de eu não ter esquecido nenhum trombone eu também não sei diferenciar um trombone de um violino eu saí pelo mesmo caminho e dando uma última volta na área interna encontro uma surpresa... mais uma! Um pequeno museu arqueológico com o mobiliário todo atirantado... pra variar, belíssimo!!! 





Museu arqueológico







Daí alguém vai perguntar, por que diabos um museu arqueológico dentro de um complexo como esse? A resposta é simples... ROMA!!! Qualquer lugar que tu inventares de cavar um buraco tu vais encontrar algo com centenas de anos... e neste local não foi diferente, durante a preparação do terreno encontraram alicerces de uma villa do século VI a.C. e o arquiteto genovês adaptou o seu projeto (isso custou um ano ao cronograma da obra) para preservar o sitio arqueológico e também criou o espaço para um pequeno museu que expõe maquetes e informações sobre a villa e também alguns artefatos encontrados na escavação.

Alicerces de uma villa do século VI a.C. preservados dentro do complexo
Ainda dei mais uma volta pela área externa... subi as arquibancadas do anfiteatro e fui logo abaixo das grandes cascas que cobrem as salas de música... (ok, seguia buscando um caminho alternativo para entrar em uma das salas...) e não é que fui surpreendido mais uma vez! A estrutura das coberturas é construída com um misto de madeira laminada colada e tubos metálicos... lindo demais!!! 
Vista da estrutura de sustentação da cobertura, madeira laminada colada e aço.
E terminou aí a minha visita à obra do Renzo Piano... saí muito impressionado com a qualidade do complexo arquitetônico, com a sensibilidade na implantação, com o esmero construtivo... e principalmente, saí encantado por ver um espaço público e cultural sendo plenamente utilizado... esse foi um dos dias fáceis de perceber o abismo que há entre a realidade do nosso país em relação à realidade dos países desenvolvidos... sob este aspecto, nosso presente é triste e nosso futuro não parece ser muito distinto.
Panorâmica do conjunto
Salvo a foto aérea e a imagem do google todas são de minha autoria e se elas forem úteis podem utilizá-las sem fazer cerimônia... se indicar o crédito eu fico faceiro, mas se não der para indicar eu não vou ficar triste.


Para mais informações sobre a obra:
http://www.rpbw.com/ - site do escritório do arquiteto 
http://www.auditorium.com/ - site do complexo


P.S.: Peço perdão por algum erro de português, alguma frase desconexa ou diagramação ruim... faltou tempo para revisar a postagem com calma, mas prometo que durante a semana tiro uma horinha para fazer isso.