quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Olhando para o nosso quintal... (3) - RMAA

Seguindo a série de arquitetos brasileiros, hoje indico um escritório que há algum tempo sou fã das casas que eles projetam, RMAA - Reinach Mendonça Arquitetos Associados.

Os titulares do escritório Henrique Reinach e Maurício Mendonça começaram o RMAA em 1987 e nesses vinte anos de atuação já receberam vários prêmios: IAB, ASBEA, Bienal de São Paulo... inclusive pelo projeto da sede do próprio escritório, que por incrível que pareça é raro no Brasil arquiteto com escritório realmente legal (em alguns casos casa de ferreiro espeto de pau, em outros falta de grana e acho que ainda há aqueles que nem pra si conseguem fazer algo bom...)


Na primeira foto a residência Audi e na segunda a residência Albuquerque, visita o site do escritório e dá uma olhada em mais um escritório que a produção não deixa nada a desejar para as figurinhas que vêm que fora - http://www.rmaa.com.br/

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Artigas e seus troncos estruturais

Pouco tempo atrás vi no excelente blog Neorama a casa Cachagua, projetada pelos chilenos do F3 Arquitectos, onde foram utilizados pedaços de tronco de árvores para criar uma espécie de brise...

Casa Cachagua, F3 Arquitectos 2006

E na hora me veio em mente imagens de duas casas que o Artigas projetou: a primeira uma pequena casa feita em 1950 para o seu irmão Giocondo (já demolida) e a segunda feita em 1967, a FAU é de 1961, a Casa Elza Berquó.

Casa Giocondo, Artigas 1950

Porém o Artigas utilizou os troncos como pilares com juntas de neoprene entre a madeira e a laje de concreto... ou seja é um tronco de árvore estrutural!!!

Casa Berquó, Artigas 1967

Sobre a casa Berquó, o próprio Artigas:

"É meu projeto meio pop, meio irônico e eu gosto muito de vê-lo sob qualquer ângulo. São pedaços de tronco de árvores que apóiam toda a estrutura de concreto da cobertura. Mas o que é o avanço técnico!!! Danei a descobrir que era possível colocar a laje de concreto armado sobre uma coluna de madeira e experimentei, pela primeira vez, na casa de praia de meu irmão Giocondo. Com o surgimento de um material chamado neoprene, foi possível fazer com que a carga do telhado se distribuísse pela área da coluna de madeira e, dali, para as fundações".

Em um próximo post eu falo mais sobre Artigas... e sobre outras duas de suas casas.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Feitiços...


Há certas modas que as mulheres se apegam que são horríveis, mas parece que elas não se dão conta e invadem nossas ruas com elas...

Bons exemplos são esses sapatos, botas ou tamancos... que são verdadeiras armas, saltos gigantes, sem nenhuma graça ou proporção... que ainda dão a impressão de que a guria tá fazendo um baita esforço para levantar a perna e dar o próximo passo, verdadeiros sapatos de Frankstein...

E é exatamente sobre esse tipo de salto que o cronista David Coimbra (david.coimbra@zerohora.com) escreveu na Zero Hora da quarta passada... e que tomo a liberdade de transcrever parte do texto dele, ainda sem a devida autorização do autor que se pedir para eu retirar do ar, é claro que faço na hora... aí vai:

...não gosto daquelas botas de sola alta que as mulheres estão usando. Solados de quatro dedos de altura, por favor. Explícito demais. Fica muito óbvio que a mulher está disfarçando a altura. O salto alto, o escarpim, esse não. O salto alto representa a mulher na ponta dos pés. Quer dizer: ainda é o corpo da mulher. Só que potencializado. Ela se torna mais elegante, os músculos da panturrilha se alongam, os da coxa ficam torneados e os glúteos empinam-se graciosamente, como se estivessem alegres pelas belezas da vida. Talvez seja um sacrifício para as mulheres caminhar o dia inteiro em cima de saltos de 10 centímetros, mas o resultado compensa, decerto que compensa. A diferença é sutil, mas profunda: o salto alto é genuíno; o solado largo é grosseiro. As botas de solado largo fazem a mulher perder a autenticidade, e, quem perde a autenticidade, perde a elegância.

E ele segue seu texto falando sobre o futebol do Grêmio, o que não é assunto para este post, mas que mais cedo ou mais tarde eu ainda escrevo sobre ele...

Mas afinal, qual a relação disso com Arquitetura? TODA!!!

Fetiches arquitetônicos são válidos quando são genuínos, autênticos e elegantes. São válidos quando vêm da crença do Arquiteto estar fazendo o melhor possível com a sua linguagem arquitetônica, respeitando o tempo e o meio em quem ele vive... porém, quando se torna uma arquitetura de fachada feita para seguir a tendência que estampa as capas de revistas... (seja ela neopós qualquer coisa ou seja ela brancosa**) então deixa de ser salto alto e vira um solado grosseiro... e infelizmente essa moda de solados grosseiros é o que mais se tem visto por de trás dos tapumes.

*Fetiche, do francês fétiche, que por sua vez vem do português feitiço... acho que todo grande Arquiteto é um fetichista... ele sabe que o prazer está na mente e não no corpo.

**Arquitetura brancosa, neologismo utilizado para designar uma tentativa de fazer arquitetura branca com formas puras... geralmente o arquiteto lembra de fazê-la branca e esquece do resto...

sábado, 6 de outubro de 2007

Minha droga é mulher...

Já faz algum tempo o Gabriel me chamou no msn e contou que havia encontrado uma antiga revista Trip com o Niemeyer... eu pensei na hora "bah, também tenho essa!!!"

Dito e feito, estava lá ela, TRIP #85, coberta de poeira em uma prateleira de revistas do meu cafofo em Porto Alegre. É a edição de janeiro de 2000 e tem como entrevistado o boêmio arquiteto, então com 93 anos de idade. Entrevista meio padrão, a não ser por algumas boas tiradas de uma revista (des)pretensiosa como é a Trip... e uma dessas tiradas é:

TRIP - Qual foi sua droga pessoal, teve alguma droga que o senhor gostou?
Oscar Niemeyer - Nenhuma! Minha droga é mulher!

...passados 7 anos o monstro está chegando aos 100 anos com toda lucidez e com merecido destaque na mídia internacional, no periódico espanhol El Mundo, do dia 7 de maio desse ano, há uma entrevista com Arquiteto onde além de ele afirmar que sua longevidade está nas mulheres ele ainda reafirma sua posição revolucionária-comunista:

"...cuando veo a un solo joven protestar en la calle pienso que esa labor es mucho más importante que mi trabajo."

Vai lá, sempre vale reler as palavras do boêmio revolucionário, nas horas vagas Arquiteto... e aproveita e dá uma praticada no espanhol.

link para entrevista no El Mundo: http://www.elmundo.es/papel/2007/05/07/cultura/2119139.html

link para a revista Trip #85:
http://revistatrip.uol.com.br//redirect.php?link=http://www.trip.com.br/85/negras/home.htm


*No topo um dos clássicos croquis do mestre modernista.


segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Charles Eames: "No, Ray is not my brother."


Charles nasceu em 1907 em St. Louis, Missouri, começou a estudar arquitetura na Washington University, ficou por lá apenas 2 anos, foi convidado a retirar-se da universidade por, conforme anotação de um dos professores, "insistir em ter uma visão demasiadamente moderna" e em 1929 (tolos 22 anos de idade) se casou com Catherine Woermann com quem um ano mais tarde teve a filha Lucia.... em 1938, atendendo um convite de Eliel Saarinen (pai de Eero, e também arquiteto) foi com sua esposa e filha para Michigan onde assumiu o departamento de design industrial na Cranbrook Academy of Art...

Ray nasceu em 1912 em Sacramento, California, artista plástica por formação... viveu em várias cidades durante sua juventude, em 1933 foi morar em NY para estudar a pintura abstrata de Hans Hofmann e em 1940 começa seus estudos na Cranbrook Academy of Art em Michigan....

Paixão avassaladora... pouco menos de um ano depois Charles se divorcia de Catherine e se casa com Ray, formando um dos mais fantásticos casais de designers da história, o casal Eames...

Charles e Ray Eames se mudam para Los Angeles, onde atendendo ao chamado de John Entenza, editor da Arts & Architecture Magazine e enorme incentivador da arquitetura modernista, projetam Case Study House #8.

| Pausa para o café: O Case Study Houses foi um programa patrocinado por Entenza e posteriormente por David Travers que durou de 1945 a 1966 e tinha como objetivo desenvolver uma série de casas experimentais que fossem baratas e funcionais para absorver a demanda residencial causada pelo fim da Segunda Guerra.
Participaram deste projeto além do casal Eames: Richard Neutra, Eero Saarinen, Craig Ellwood, Pierre Koenig, entre outros...
Para saber mais sobre isso nada melhor do que o site da própria Arts & Architecture Magazine http://www.artsandarchitecturemag.com/ |

Eles continuaram seu trabalho como designers, seu ateliê funcionou por 45 anos no mesmo endereço, até a morte de Ray, em 21 de agosto de 1988, no dia exato dez anos após a morte de Charles.

Gostaria de escrever muito mais sobre o genial casal que desfilou por todas as facetas do design -móveis, gráficos, roupas, brinquedos....- que aperfeiçoou o método criado por Aalto para modelagem de madeira compensada.... que se aventurou pelo cinema e fez muito pela Arquitetura.... mas para não ficar -mais- cansativo encerro este post por aqui, deixando uma pérola encontrada no youtube... o casal apresentando seu trabalho no Arlene Francis' Home Show, da rede NBC, em 1956.

Parte 1:




Parte 2:






* Na foto a Eames lounge chair e sua banqueta... juntamente com a cadeira que eu sento todos os dias para trabalhar, também desenhada pelo casal, uma das minhas peças favoritas.

** É também do Charles a bela frase: "The details are not the details. They make the design.”