quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Álbum de Figurinhas :: VitraHaus

Há algumas semanas escrevi sobre o campus da Vitra na simpática cidadezinha de Weil-am-Rhein (link aqui)... depois escrevi especificamente sobre o VitraHaus, um prédio projetado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron (link aqui) e prometi que um dia faria um lazy post só com fotos dessa obra... pois é, sou fui um guri de palavra, hoje é dia de álbum de figurinhas da VitraHaus... 


Como de costume, se quiserem usar as imagens podem ficar à vontade... e se citarem a fonte ficaremos tri faceiros!!!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

La Ciudad de las Artes y las Ciencias de Valencia :: Santiago Calatrava

A bela estação de trem de Valência, à esquerda a plaza de toros
Eram sete da manhã e eu estava tão feliz por mais uma vez estar desembarcando em Barcelona que duvido que algum dos funcionários do El Prat pudesse imaginar que meu vôo desde o Qatar havia durado toda a noite e que sentado ao meu lado veio um cara que quando não estava roncando igual ao Zé Colméia, estava mascando uma espécie de tabaco e cuspindo num copinho... mas acreditem em mim, ouvir novamente Benvingut é um baita remédio para curar o mau humor.

No aeroporto tomei um ônibus até a plaza Catalunya, caminhei até o hostel e depois de um bom banho quente sai para revisitar alguns lugares que gosto muito... dei uma volta  na praia... re-vi Gaudi, Mies, Isozaki... e quando me dei conta já era fim de tarde e eu estava em um boteco comendo tapas, tomando copas de cava e conversando com novos amigos. Foi em uma dessas conversas que me perguntaram “tu já conheces tão bem Barcelona, por que está aqui de novo? há tanto para se conhecer por aí...”, pergunta difícil... respondi no dia seguinte quando peguei a minha mochila e fui para Valência...
Por cerca de quarenta Euros se vai de trem de Barcelona à Valência e depois de mais ou menos três horas de belas paisagens se chega à estação Nord, juntinho à Plaza de Toros e não muito longe do parque Jardin del Turia. Um enorme parque linear que cruza a cidade e ocupa sete quilômetros do que outrora foi o leito do rio Turia...
 Ciudad de las Artes y las Ciencias - Na frente o enorme Palácio de Artes Reina Sofia
Para quem nunca ouviu falar nesse rio, eu vou contar o que me contaram: o rio Turia estava dentro do tecido urbano e em 1957 houve uma grande enchente cujo os estragos foram suficientes para os valencianos se emputecerem e construírem um grande canal de concreto para desviá-lo do centro da cidade... a primeira intenção de uso para o leito seco foi construir ali uma autopista, porém a população pedia por mais espaços verdes e com o passar dos anos os sete quilômetros foram sendo tomados por jardins e praças... até que em 1986 oficialmente se torna o parque que hoje abriga inúmeras atividades: o zoológico, o Palau de la Musica, o parque de Gulliver, o Bioparc e também la Ciudad de las Artes y las Ciencias, um conjunto de obras assinadas pelo arquiteto Santiago Calatrava, com participação do seu antigo professor Felix Candela em uma delas.
A história deste complexo é a mais ou menos assim, em 1989 um dos catedráticos da Universidade de Valência apresenta ao governo local a idéia de construir um museu de ciências no Jardin del Turia... os políticos não só gostaram da idéia como viram nela um bom motivo para colocarem seu nome na história da cidade e assim nasceu um projeto chamado de La Ciudad de las Ciencias, que deveria abrigar além do museu, um planetário e a terceira torre de comunicações mais alta do mundo, que seria o ícone do complexo.
L'Hemisféric... uns dizem que parece um olho, eu digo que parece um tatu
Dois anos depois o arquiteto valenciano Santiago Calatrava apresentou seu projeto inicial e em 1994 as obras iniciaram, sendo que o primeiro a ser feito foram as fundações da torre de comunicações... mas não é só no Brasil que política é uma coisa complicada, os partidos de oposição começaram uma forte campanha contra as obras do complexo, batendo forte e dizendo que tudo aquilo era uma obra faraônica com o objetivo de promover o partido de situação... (isso lhes parece familiar?)
No meio desta polêmica a oposição assumiu o governo valenciano e as obras foram paralisadas para que fosse revista toda a filosofia do projeto... alguns meses depois foi apresentado uma nova proposta com o nome de La Ciudad de las Artes y las Ciencias. Neste novo projeto o museu e o planetário foram mantidos e foram acrescentadas duas novas obras, um parque oceanográfico e um palácio de artes (salas para concerto e ópera), este último no lugar de onde deveria ser a icônica torre do governo anterior... aquela que já tinha as fundações prontas... 
L'Umbracle e à esquerda se vê o tatu e o museu Principe Felipe
Calatrava cobrou mais alguns milhões e em 1996 apresentou o projeto refeito, onde ele assinava o planetário (L’Hemisfèric), o palácio das artes e o museu; o arquiteto Félix Candela assinava o parque oceanográfico (L ‘Ocenogràfic). As obras foram retomadas e em 1998 se inaugura o primeiro prédio do complexo, uma enorme cobertura de aço e vidro com o formato de um grande tatu (alguns dizem que é um olho humano), sob ela há uma esfera que é o planetário e também uma sala de projeções IMAX.

Com o passar dos anos os demais prédios foram finalizados, em 1999 o Museu de las Ciencias Principe Felipe... em 2002 L’Ocenogràfic... em 2005 o Palacio de las Artes Reina Sofia e ao fim de 2009 foi inaugurado um prédio que não fazia parte do projeto inicial, a Àgora, que está entre o museu e o parque oceanográfico, e nada mais é do que uma grande praça coberta por uma estrutura metálica com uma forma que para alguns lembra uma grande genitália feminina (dependendo o angulo que se vê eu concordo com esses tarados) e que quando eu estive lá estava abrigando a quadra principal do ATP 500... 
Além destes prédios o conjunto ainda conta com a ponte de l’Assut de l’Or e com um grande passeio ajardinado coberto por arcos que é chamado de L’Umbracle, ambos assinados pelo Calatrava... para completar, ainda há a previsão da construção de três enormes torres de apartamentos no terreno contíguo ao L’Ocenográfic, também projeto dele. Estas ainda não sairam do papel devido à crise que há algum tempo preocupa a Europa... (nem a crise consegue trazer só notícias ruins).
Foto da maquete do conjunto - ao fundo estão as torres de apartamentos
Para não deixar passar em branco, essa não foi a primeira vez que visitei uma Calatravice*, já havia visitado em Buenos Aires, em Barcelona, em Lisboa... em comum vi um apelo estético muito forte que tem a capacidade de seduzir olhares desavisados, fora isso não consigo encontrar grandes qualidades na arquitetura dele... são estruturas repletas de elementos desnecessários, plantas e formas que não atendem as questões funcionais do programa... fora que muitos  dos seus volumes “orgânicos” ou futuristas são tão forçados que chegam a ser caricatos... mesmo assim as construções dele são a prova de que mesmo a má arquitetura pode render boa fotos, em breve postarei um belo álbum de figurinhas de la Ciudad de las Artes y las Ciencias.
Museu Principe Felipe e ao fundo a ponte l'Assut de l'Or e a Ágora - busquem a escala humana para ter noção do quão grande é esse encrenca... e reparem na escadaria do museu...
Mais informações sobre o complexo no site oficial: 
*Macaco, para chamar a atenção, faz macaquice... Calatrava faz Calatravice.
P.S.: Há algum tempo já havia escrito sobre o Santiago Calatrava, na oportunidade eu chamei a atenção para uma entrevista que eu havia lido no El País quando lhe foi questionado o porque o orçamento dele para uma de suas obras era de 4,5 milhões de Euros e o custo real tinha sido de 20 milhões... e ele simplesmente respondeu “fiz um cálculo que foi aprovado... a partir daí as coisas não estão mais nas minhas mãos. Meu trabalho se limita a estética...” - preciso dizer algo mais sobre ele? 

P.P.S: As imagens são de minha autoria, podem copiar, usar, distribuir... conhecimento só é conhecimento quando é disseminado.
à esquerda a Ágora, ao centro a ponte e à direita o museu Principe Felipe

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

VitraHaus :: Herzog & de Meuron

Uma das "salas" do showroom da Vitra
Não existe milagre, para fazer boa arquitetura é necessário muito estudo, paixão e transpiração... e o estudo que eu falo não é apenas o da formação universitária, mas também o que deve seguir durante toda a vida profissional... a cada novo projeto o bom profissional deve trabalhar com mais de uma possibilidade, deve realizar a leitura correta das condicionantes e do programa de necessidades e não deve ter vergonha de realizar estudos de caso. 
Em 2002, na tentativa de fazer um bom trabalho de graduação eu me dediquei ao estudo um projeto realizado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, que por coincidência um ano antes haviam ganho o Pritzker...  o projeto que eu usei como estudo de caso era a vinícola Dominus, localizada na Califórnia. Um exemplo de arquitetura minimalista com uma força visual impressionante... talvez devido à forma como mimetiza com a paisagem, talvez pelo uso inusitado de gabiões como pele da edificação... quem ainda não conhece esse projeto, eu recomendo muito: http://www.archiplanet.org/buildings/Dominus_Winery.html
Passados quase dez anos eu estava reencontrando a arquitetura dos suíços na cidadezinha de Weil-am-Rhein, interior da Alemanha, mais especificamente no Campus da Vitra Design, onde eles foram responsáveis por um novo prédio do complexo, o VitraHaus.
Área com amostras dos acabamentos possíveis e computadores para simular o resultado final

Como eu já contei em outra postagem a Vitra é uma fábrica de móveis e utensílios domésticos que possúi a licença de produção do design de monstros como: o casal Eames, Mies, Panton, Corbusier... e por aí vai... e junto à sede da empresa em Weil-am-Rhein foi construído um grande showroom dos seus produtos, o VitraHaus, com o objetivo de receber a visita não só dos seus consumidores diretos, mas também para receber pessoas que querem conhecer mais sobre a história do design ou que simplesmente gostam de passear em uma grande loja de mobiliário de primeira qualidade... coisa que, guardadas as devidas proporções, acontece aqui em Porto Alegre com a Tok Stok... (repito, guardadas as devidas proporções...)
Escada caracol, uma delas
Para resolver o que foi pedido pelo cliente os arquitetos suíços entenderam que o correto não seria apresentar os produtos em um ambiente sem identidade, mas sim apresentá-los dentro do seu contexto de uso, ou seja, dentro de uma casa... Como a linha de produtos da Vitra é muito extensa para colocar dentro de apenas uma casa, eles resolveram isso projetando nada menos do que doze (!) casas que vezes estão contíguas  e vezes estão empilhadas, seguindo uma improvável lógica geométrica nos cinco andares do prédio.
A solução espacial é brilhante, ainda mais e levarmos em conta a complexidade que tem por trás dela e que não é percebida aos olhos de um leigo... começando a visitação pelo último andar (seguindo uma lógica promenade architecturale) vai se passando por ambientes com alturas variadas... escadas em caracol... planos inclinados... e a maneira como os arquitetos enquadraram a paisagem é genial, pois se passamos de uma “casa” para outra esperamos que a paisagem também mude e é exatamente isso que acontece, hora se visualiza a rodovia... hora a vista são os outros prédios do campus... hora é a idílica paisagem dos morros que circundam a região... 
sala com mobiliário para os piás...
Complementando o programa ainda há no térreo: uma loja de pequenos acessórios e utensílios, uma cafeteria e algumas salas de reunião/negócios.
Na minha opinião o resultado é brilhante. Talvez a volumetria até possa ser questionada por alguém que ande aborrecido e mal amado... mas a qualidade espacial é digna do mobiliário ali exposto, ou seja, é inquestionável.... assim como é inquestionável que a Vitra atingiu o seu objetivo com a VitraHaus, vocês podem ver pelas fotos que havia dezenas de pessoas visitando e usando os espaços... os alemães construíram bem mais que um showroom, construíram um equipamento urbano. 

Em breve faço uma postagem estilo álbum de figurinhas... tenho muitas imagens desta obra e acho que vale a pena compartilhar.

P.S.: Estive lá em um chuvoso dia de outono, mas tenho certeza que no verão o pessoal de lá usa os gramados do Campus como se fosse um parque... certo que é lá que se toma o chimarrão das tardes de domingo.
Além de móveis, luminárias...
Link para a primeira postagem do Campus da Vitra Design: http://arquis.blogspot.com/2011/07/vitra-campus-weil-am-rhein.html
Link para o escritório dos suíços Herzog & de Meuron: http://www.herzogdemeuron.com/
Link para ótima matéria realizada pelo David Basulto para o archdaily, onde se podem ver os complexo diagramas projetuais da VitraHaus: http://www.archdaily.com/50533/vitrahaus-herzog-de-meuron/

Uma externa para quem não viu o outro post, meu primeiro contato visual depois de descer do ônibus que me trouxe desde Basel.