segunda-feira, 27 de julho de 2009

Toda arte é uma revolta contra o destino do homem


Em dezembro deste ano Niemeyer vai completar 102 anos de vida e provavelmente siga na ativa até o dia em que ele sair para tomar um uísque com Le Corbusier. Alguns defendem que ele deveria ter largado os projetos antes dos anos 80... outros parecem agradecer que ele siga projetando pois assim podem mostrar que nem o Niemeyer está acima das críticas (isso em um país tão pobre quando se trata de crítica arquitetônica). Eu concordo que a produção dele na terceira idade não é condizente com a biografia dele, mas fico assustado quando percebo que com tantas críticas que o trabalho dele tem recebido ele está se tornando para alguns jovens estudantes uma caricatura, fazendo que seja ignorada toda uma história profissional que o tornou um dos maiores arquitetos que já empunharam uma Caran d'Ache, mesmo que alguns ainda façam cara feia para reconhecer isso.

Como disse, concordo com parte destas críticas, mas como eu sou um jovem arquiteto romântico e saudosista, trago nesta postagem uma obra do Niemeyer em seus bons dias... o ano era 1965 e ele, com 58 anos, estava em Paris juntamente com o arquiteto francês Jean Nicolas que o apresentou à Georges Gosnat, então responsável pela administração do Partido Comunista Francês. Tomaram vinho... discutiram sobre a esbeltez das parisienses e a voluptuosidade das cariocas... fumaram alguns cubanos e em junho de 1966 foi confiado ao Niemeyer o projeto da nova sede do Partido*.

A nova sede do Partido Comunista Francês começou a ser construída em 1968 e foi inaugurada em 1971... o tempo não é cruel apenas com as pessoas, passados quase 40 anos da conclusão do prédio o comunismo e consequentemente o PCF são caricaturas do que representavam na década de 60. Enquanto o PCF não quebra de vez a sua sede segue podendo ser visitada e este foi um dos meus programas dessa minha ultima ida à Paris.

O edifício está situado entre o 10º e o 19º arrondisement de Paris, bem de fronte à estação de metro Colonel Fabien. Uma cerca separa a área do edifício da calçada, porém o pequeno portão parece estar sempre aberto e o espaço Niemeyer e o auditório são abertos à visitação, quando não há eventos (esse prédio abrigou recentemente desfiles da Prada e também a conferência anual do RIBA).
Para acessar o sinuoso prédio de concreto e vidro desde a rua se sobe uma espécie de rampa sinuosa -que de piso de repente se curva para o céu e se torna uma espécie de parede sob o volume principal do prédio- em concreto até chegar a uma escada que desce ao hall de acesso principal, hoje espaço Niemeyer, que está praticamente no nível da rua. Esta escada está protegida por uma marquise de inconfundível traço.
O hall principal é um grande salão com mobiliário desenhado pelo arquiteto que abriga espaço para exposições, uma biblioteca, portaria, acesso aos elevadores e o auditório do comitê central, com suas portas trapezoidais inspiradas em um futuro ainda distante.
O auditório está sob uma cúpula de concreto que emerge no espaço frontal ao edifício e comporta 230 pessoas sentadas e internamente está coberto por pequenas (e empoeiradas) peças de alumínio que dão um efeito sensacional quando iluminadas... externamente essa cúpula está flutuando entre a rampa de concreto e a área gramada... sendo que o piso não encosta nas suas paredes, há um negativo com vidro em toda sua volta o que internamente cria um efeito de luz que o torna ainda mais interessante.
Ainda abaixo deste nível de pseudo subsolo há 3 níveis de estacionamento que não pude visitar, assim como não pude visitar a cobertura de onde se vê desde a rua a existência da espécie de dois terraços jardins, um em cada extremidade do prédio.
Voltando ao inicio desta postagem, creio que as críticas aos projetos do Niemeyer-terceira-idade são válidas... acho que há muito tempo ele deveria ter esquecido da prancheta e ter se dedicado ao ensino, à escultura, à pintura, às secretarias... mas vale nos perguntarmos se não é um grande erro colocarmos essa fase e as críticas que ela merece acima de toda uma história que o torna um dos grandes da arquitetura mundial.

Aqui um link para um vídeo sensacional de um jovem e orgulhoso Niemeyer, com cerca de 60 anos, durante as obras da sede do PCF:

P.S.: A frase que intitula a postagem é de autoria do André Malraux e talvez ajude a explicar um pouco do porquê o velho Arquiteto não abandonar a lida. Ainda sobre o Malraux, a ajuda dele -então ministro e amigo do Charles de Gaulle- foi fundamental para possibilitar o trabalho de Niemeyer na Europa e também para viabilizar o auto-exílio do arquiteto durante a ditadura.

P.P.S.: Na última postagem eu pedi que vocês escolhessem o tema da próxima... e foram dois votos... vou tentar mais uma vez para ver se agora chegamos aos 3 votos... para um próximo post vocês podem escolher entre Burger King modernista ou F. Gehry... e então?

:: Como geralmente acontece as fotos são de minha autoria e estão aí a disposição... não precisa pedir autorização para copiar ou utilizar elas para qualquer fim, mas ficaria tri contente se o devido crédito fosse dado caso sirvam para alguma coisa.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Momento Pipoca - Trama Internacional

De volta ao lar e conforme prometido de volta ao blog... cheguei há uma semana, sem gripe A, sem problemas aéreos e sem maiores percalços.... e além de uma vontade gigante de comer um churrasco eu voltei com uma vontade grande de ir ao cinema.

E entre A Era do Gelo, Transformers, Mulher Invisível made in Piracicaba... encontrei em cartaz o filme Trama Internacional, filme que eu tinha a lembrança de ter lido algo sobre ele no Vista do Observador e que também tinha visto muitas e muitas vezes o trailer no cinema...


O filme é bacana, boa história, bela atuação do Clive Owen, translúcida participação da Naomi Watts e uma direção tri competente do Tom Tykwer (o mesmo de Corra Lola, Corra)... mas o mais legal do filme é que não tem arquitetura ruim nele.

Ele começa em Berlim de fronte a gigantesca Hauptbahnhof (será que teremos obras como essa para a Copa?) e termina em Istambul sobre os telhados do Grande Bazar... e ainda estão no filme um prédio da Autostadt (no filme é a sede do maligno IBBC), o belíssimo Phaeno Science Center da não tão bela Zaha Hadid, o edifício Pirelli do Gio Ponti e por fim o Guggenheim de Nova Iorque....

A cena do tiroteio no Guggenheim é tão bem feita que o Gabriel chegou a pensar que a reforma que estavam fazendo na clarabóia tinha sido devido ao filme... mas não... e também não foi computação gráfica aquela destruição da clarabóia e os diversos tiros nos peitoris da rampa... os caras reproduziram em 16 semanas o atrium do velho Frank em um galpão em Berlim e ali filmaram a cena que por si já vale o filme. De Guggeinheim real só a cena da entrada e a cena da saída, todo o tiroteio se dá no set.

Para quem quiser mais informações:

E como esse não é um blog de cinema, o próximo post vai ser arquitetônico e fruto da viagem... mas o conteúdo vocês podem decidir, Niemeyer (em boa fase) ou Zaha Hadid?