domingo, 19 de setembro de 2010

Amaldiçoado...

Memorial da Cidade, Teresina - Ruy Ohtake
Sempre que tenho dificuldade para acertar um projeto eu me lembro da tarde em que fui amaldiçoado.
Acho que o ano era 2001... estávamos eu e o Gabrielito (o cara que deveria ajudar a manter esse blog) no auditório da faculdade de Arquitetura da UFRGS para ver uma palestra do Ruy Ohtake...  na época parecia uma boa idéia... 
O que eu não sei explicar é o motivo de eu ter comprado um livro dele e ter ido depois da palestra pedir para ele autografar... (pelo menos hoje tenho coragem de assumir esse tipo de comportamento estranho), quando eu fiz isso ele sorriu, perguntou o meu nome... e depois disse: "Luciano, tomara que um dia você faça arquitetura como eu faço"....  na hora eu não me dei conta, mas passados alguns anos eu comecei a me perguntar o que eu fiz para merecer isso????? O que?????  
Pô, eu fiquei quietinho enquanto ele mostrava imagens de carambolas roxas e ainda se orgulhava disso... talvez se eu tivesse uma visão do futuro eu fizesse cara feia com o projeto que ele fez para Teresina... mas não, eu fui tri educado... por que ele me amaldiçoou desse jeito???
P.S.: Estou aceitando sugestões e até simpatias para me livrar dessa maldição. 
P.P.S.: Nos próximos dias uma postagem decente, prometo.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Fred & Ginger :: Gehry, Praga


Bendito o dia que eu inclui Praga em um roteiro de viagem!!! Quem puder conhece-la vá sem pensar duas vezes e quem já conhece eu acho que não preciso dizer que vale a pena voltar, nem que seja para aproveitar um fim de tarde na Starometské Námestí vendo o pessoal esperar ansioso a mudança de hora no relógio astronômico.

minha surpresa ao ver a Ginger no caminho do hostel
Cheguei em Praga e fui procurar meu hostel... há muitos anos me hospedo em hostel, quase sempre faço as reservas pelo Hostelworld.com e recebo um email de confirmação onde tem os valores que devo pagar quando chego no hostel e também as maneiras de chegar nele e na minha reserva dizia o seguinte: 


From The Main Train Station
take subway line C to Florenc stop. Change to line B and go to Karlovo namesti stop.
Exit the platform and then follow the signs for the Karlovo namesti - DONT GO TO Palackeho namesti.
Make sure you take the exit KARLOVO NAMESTI (not Palackeho). 
Outside metro cross the tramway tracks (opposite the park), take Resslova street downhill towards the river, after 170m turn right to Na Zderaze street, after 120m turn right to Na Zborenci street.
After 50m you hit the hotel.

Desci na Karlovo namesti (nem vi a tal saída para a Palackeho, por sorte, porque sou campeão em me perder) e peguei a rua Resslova em direção ao rio Vltava, cuidando para não passar da Na Zderaze (!!!) que era onde deveria dobrar... quando de repente vi no fim da rua o vestido da Ginger Rogers!!! Bah, fiz fui até o hostel para me livrar da mala, fiz o check-in mais rápido que pude e corri para ver a oportunidade que o Jean Nouvel havia desperdiçado.

A fachada principal do Fred foi construída com 99painéis de concreto...
99 fôrmas diferentes.
Para quem não conhece a história, deixa eu explicar... em fevereiro de 1945 mais de cinquenta B-17 americanos partiram para bombardear Dresden (que fica na Alemanha, 100 km ao norte de Praga) mas devido ao mau tempo acidentalmente (pelo menos é o que diz a versão oficial, que nesse caso parece ser verdadeira) eles lançaram mais de 150 toneladas de bombas sobre a capital da Tchecoslováquia resultando danos em mais de 300 casas e assassinando mais de 700 civis... e um dos locais bombardeados foi uma edificação neo-renascentista na esquina da Resslova com a Rašínovo nábřeží... 

Nos inicio anos 90 o, outrora ator e escritor que morava naquela vizinhança, então presidente Václav Havel pediu ao arquiteto Vlado Milunic, para fazer um estudo para a construção de uma espécie de centro centro cultural para aquela esquina... Milunic, um arquiteto croata que vivia em Praga, juntamente com os arquitetos Jan Linek e Vit Maslo, apresentou uma proposta de um prédio angular coroado com uma cúpula de vidro em alusão à torre Tatlin e à vizinhança Art Nouveu.
Impressiona a qualidade da inserção urbana (essa foto não é minha) 
Com a revolução do veludo, que colocou Havel no poder, o comunismo soviético deu espaço para a entrada do mundo capitalista e em 1992 o banco holandês ING comprou a esquina para construir ali um edifício de escritórios. Com o objetivo de construir um prédio marcante na paisagem de Praga (como o ING fez em outras cidades) e dispondo de um orçamento quase infinito o ING foi buscar um starchitect para dar grife ao seu novo projeto. 

Salão principal do restaurante da cobertura
sob a cúpula que se vê desde a rua
O primeiro a ser convidado foi o Jean Nouvel, em voga pelos projetos da Ópera de Lyon, do edifício Cartier, pela Galeria Lafayette de Berlin, entre outros... mas o francês achou que um terreno de pouco menos de 500 metros quadrados era pequeno demais para sua arquitetura e rejeitou o trabalho... então convidaram o Gehry que não foi bobo de negar o trabalho.

O resultado é o Fred & Ginger (nome dado pelo Gehry em alusão à Fred Astaire e Ginger Rogers), mais conhecido como Dancing House, um prédio constituido por dois volumes bem distintos... a Ginger com a leveza das curvas de seu vestido e o Fred com uma forma mais sólida, mais neutra, porém nem por isso sem movimento. Alguns vestígios claros da proposta original ficaram, o térreo com um café... o restaurante na cobertura... e referência à vizinhança... mas claramente as linhas são do Gehry e assim como vi na sede do DZ Bank em Berlim é muito correta e respeitosa a inserção no tecido urbano consolidado, tanto pela altura como pelo grão das aberturas. 

panorâmica desde o terraço do restaurante, ao lado da cúpula... bem ao fundo o castelo de Praga
Fora isso o prédio é muito fotogênico e a vista que se tem do terraço é sensacional.

Para quem se interessou mais pela história do bombardeio do que pela arquitetura: http://www.praha.eu/jnp/en/entertainment/leisure_activities/x14th_february_1945_alias_ugly_wednesday.html

A foto desde o outro lado do rio é boa demais para ser minha. Foi descaradamente retirada do site http://opalgamblephotography.com/2009/07/

A foto do salão do restaurante foi também é boa demais pra ser minha e também descaradamente copiada, mas dessa vez do site do próprio restaurante http://www.celesterestaurant.cz/en/

As demais fotos são minhas mesmo e se alguém quiser descaradamente copiar, fique à vontade.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Não tem pé de meia... :: Kunsthal :: Rem Koolhaas, Rotterdam ::

Primeiro contato visual com a Kunsthal,
vista desde a Westzeedijk
Tenho um amigo que diz que se a namorada dele ver ele com outra, quase pelado... faltando tirar só um pé de meia... ele vai ter uma desculpa, ops... um argumento válido para a situação... um pé de meia basta! E será que existe desculpa para eu ficar tanto tempo sem escrever? Acho que não. Então nem vou começar com aquele papinho de guri de colégio: estava sem tempo... muito trabalho... o cachorro comeu o meu caderno... fim de semestre é complicado... nada... não tem desculpa, não tem pé de meia.... então vamos direto ao que importa...
Lembro que mais para o fim da minha faculdade haviam alguns estudantes dos primeiros semestres que idolatravam o Rem Koolhaas... adoravam passear pelos corredores da FAU.PUCRS com o S M L XL  em um dos braços e um canudo vazio no outro... certo que achavam que enganavam alguém....

Durante a faculdade eu nunca tive grande contato com a obra ou com os textos do Koolhaas e depois esbarrei um par de vezes em prédios projetados por ele, mas nunca entendi bem o porque daquela gurizada nova ficar tão impressionada.

Meu primeiro contato foi em uma tarde tri chuvosa em Rotterdam, deviam ser mais ou menos três da tarde quando desembarquei na estação central e fui literalmente abaixo de mau tempo procurar o meu hotel ... após me acomodar fui procurar um museu para me entocar e o escolhido foi a Kunsthal.... e por sorte o meu hotel não estava longe do Museumpark, onde ela esta localizada... a recepcionistas disse que era só pegar a Westzeedijk -uma interessante via elevada sobre diques- e entrar no prédio que o rei mago tá puxando o seu camelo.... (pensei, tá certo que estamos na Holanda, mas tomar ácido no meio da tarde não é saudável, tia....) 

"É só procurar um prédio que no telhado tem
um rei mago puxando o seu camelo..."
Realmente eu não estava longe, em poucos minutos eu avistei um rei mago puxando seu camelo (!!!!!) sobre uma estrutura que a primeira vista (beeem de longe, cansado, na chuva e no frio) lembrava  algo miesiano.

A Kunsthal (casa da cultura) é um centro cultural composto por um auditório, um café/restaurante e três espaços de exposição que podem funcionar juntos ou separados. Embora eu tenha chegado pela Westzeedijk (nível mais alto do prédio) o acesso principal está no nível mais baixo, no Museumpark... e com rampas que se cruzam se tem acesso aos níveis internos do conjunto... (essas rampas são continuações de eixos do entorno).

Vista do nível da rua e da fachada lateral
A volumetria é honesta e a fachada lateral, que é composta também pelo desnível do auditório, é a mais interessante... por dentro chama a atenção é a quantidade de materiais e formas diferentes que ele utiliza... é o concreto aparente na estrutura, são grelhas de aço no piso, telhas translúcidas nas paredes, peitoris de vidro, corrimões de madeira... 

Fachada principal, acesso desde o parque
O Kunsthal é de 1992 e tem 3.300 m2 de área construída, uma obra relativamente compacta... é inegável a boa leitura do terreno e como é correta a forma como o prédio é inserido no mesmo, mas ainda acho que os livros do Corbusier eram mais interessantes.... 
Auditório e suas cadeiras divertidas
Para aqueles que têm uma foto do Remment Lucas colada no espelho do banheiro ou que só querem saber um pouco mais sobre essa obra eu recomendo que visitem esse link:

Espaço de exposições

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Recomeçar Mineiro


Praça Tiradentes, Ouro Preto-MG

Ok, todo mundo sabe que o Brasil só volta a funcionar depois do carnaval. Mas vamos lá:

Entramos em 2010 e não tenho nada muito filosófico a dizer a respeito: só que desejo que você que está nos lendo tenha um ano só de "prós", e consiga driblar todos os "contras" com toda a serenidade possível.

(e, em nome dos meus primeiros cabelos brancos, nunca é tarde aconselhar: Desenhe! a munheca é a salvação do arquiteto, e enquanto continuarmos formando atletas do SketchUp, Photoshop, 3d Studio e afins, a arquitetura estará perdida. Aliás, ganhei um Moleskine de natal, mais um bom motivo pra rabiscar.)

Vocês bem notaram que o blog tem passado por uma fase "turística", principalmente pelas mãos - e fotos - do Luciano, que tem nos presenteado com relatos pra lá de interessantes de suas incursões pelo velho continente e pelo país que um dia ainda há de lhe conceder a cidadania - a Argentina.

Enquanto outros assuntos interessantes estão no forno, para novos posts em breve (antes que perguntem: sim, eu vi "Avatar" em 3d e achei duca, e - não: Não vou fazer um "Momento Pipoca" pra chover no molhado), vamos seguindo a linha turística, porém valorizando nosso quintalzinho, já que semana que vem farei uma longamente desejada viagem por Minas Gerais - Belo Horizonte e cidades históricas, lugares do nosso Brasil que sempre quis conhecer, e viagem que a proximidade geográfica com Brasília tornou mais viável.

O que me traz de volta às "finaleiras" dos anos 90: Nessa época, muitos arquitetos de Belo Horizonte estiveram em Porto Alegre, ministrando palestras, lançando livros, participando de júris de concursos. Entre os que por lá passaram - e tive o prazer de ver e ouvir (isso quando não tive a oportunidade de ouro de tomar algumas cervejas com alguns), posso citar Sylvio de Podestá, Saul Villela, João Diniz, Éolo Maia entre outros, que (não só em matéria de arquitetura) formavam uma turma de fanfarrões, que contrastava gritantemente com a sisudez gaúcha (aí, PRINCIPALMENTE em termos de arquitetura).

Omni, edifício comercial de João Diniz, "conversando" com o passado em BH

Lembro claramente que eu e o Luciano nos identificamos de pronto com os caras, talvez cansados da "modorra ortogonalizante" que grassava em nossas faculdades, e talvez pelo fato de nossa produção acadêmica, na época, estar tão intimamente ligada a outras manifestações "não-arquitetônicas" - a conversa, a risada, a música e o boteco, pra citar algumas. O fato é que das pranchetas da turma de Minas, surgiam formas ousadas, abusadas, coloridas, gargalhantes. E o clima de camaradagem entre eles nos dava verdadeira inveja, até por nos parecer algo impossível de implantar por lá, por motivos que não vêm ao caso.



É com muito carinho que lembro desse pessoal, que me fez ver o quanto a vida e a arquitetura estão ligadas e se influenciam. O trabalho deles não era tão instigante por acaso: Bastava conhecê-los e ver como se frequentavam e se comemoravam mutuamente, valorizavam a convivência, a conversa de botequim ou o encontro em volta do fogão a lenha para ver e entender o que saía daquelas mesas de desenho (sim, o computador já estava lá, mas eles desenhavam bastante). Faz tempo que não tenho notícias da turma, e espero que minha passagem por Minas me possibilite o encontro com alguns exemplares de sua produção, que me acostumei a ver em fotos, quando não em "slides" projetados nas palestras na FA-UFRGS. Por ora, vou revisitando alguns exemplares da minha pequena "Biblioteca de Arquitetura Mineira", e me preparando para trazer alguma coisa pra cá na próxima semana.

Hotel Tijuco, Diamantina-MG

sem esquecer da parte histórica, é claro. Esse é um dos objetivos principais da viagem. Mas, como não sou de ferro, em Diamantina ficarei no hotel Tijuco, obra "das antigas" de Oscar Niemeyer, encomenda de Juscelino Kubitschek, diamantinense ilustre. Só espero encontrá-lo em tão boas condições quanto as fotos do site fazem supor. Aguardem.