quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O homem que se chamava Maria...

Aachener é uma pequena cidade no interior da Alemanha, quase na divisa com os Países Baixos e lá foi construída no século VIII, sob encomenda do imperador Carlos Magno, a Capela Palatina, que foi ganhando puxadinhos (como quase todas as igrejas européias) e acabou se tornando a Catedral de Aachener (ou de Aquisgrana), uma mistura de estilos arquitetônicos que segundo a UNESCO faz parte do Patrimônio da Humanidade.


Catedral de Aachener


E foi nessa pequena cidade, no dia 27 de março de 1886, que nasceu um homem chamado Maria Ludwig Michael Mies... conhecido também como Mies van der Rohe ou Mies van der Hero para os mais fanáticos.


Ele era filho de um cantero (cantero é aquele que trabalha com pedra de cantaria) que mantinha uma pequena empresa familiar de mármores na qual Ludwig ocupou seus dias como aprendiz e desenhista, já as noites eram dedicadas aos estudos dentro de um autoritário ambiente familiar.


Tentando escapar desse ambiente ele buscou alguns trabalhos como desenhista fora da empresa do seu pai e é em um desses trabalhos que alguns arquitetos lhe incentivaram a tentar a sorte em Berlim... Mies então busca na vizinhança todos os jornais berlinenses e em 1905, aos 19 anos, sem formação acadêmica regular, mas com grande destreza como desenhista e com uma vontade enorme de começar uma vida longe do autoritarismo paterno ele abandona Aachener e vai trabalhar junto a uma equipe de projeto em Rivdorf, onde não lhe pediram diploma e nem recomendação... apenas lhe pediram alguns desenhos.


Mies conhece Bruno Paul, em Berlim, que outrora foi um defensor do Jugendstil -a versão alemã do Art Nouveau- mas que já havia abandonado o movimento por considera-lo formalista demais e estava trabalhando sob uma tendência que chamava de Schalichkeit, projetando com uma linguagem mais geométrica e uma maior objetividade... e é com Bruno Paul que Mies começa a virar um arquiteto e deixar de ser um desenhista de Aachener.


Kathreiner-Hochhaus em Berlim, Bruno Paul 1928/1930

Passado algum tempo, quando inclusive ele fez um projeto nada miesiano de uma casa em Potsdam, em 1908 ele começa a trabalhar no escritório de Peter Behrens e lá começa sua inimizade íntima com Gropius, que tinha 3 anos mais que Mies e recém havia chegado de uma temporada na Espanha para trabalhar como arquiteto no escritório de Behrens... enquanto Mies ficava com os projetos que serviam para pagar as contas do escritório, Gropius recebia a chance de trabalhar nos projetos mais inovadores do escritório como as encomendas da AEG... e isso não agradava em nada o homem que se chamava Maria.


Primeiro projeto do Mies que tenho conhecimento, casa para o filósofo Alois Riehl em Potsdam - 1906

Até então Ludwig Mies não era ainda o Arquiteto Mies van der Rohe. Em 1912, Mies abre um estudio em Berlim e na mesma época começa um relacionamento com Ada Bruhn, uma jovem fora dos padrões morais da época que morava juntamente com uma dançarina de cabaré e uma estudante de psiquiatria... em abril de 1913 Mies, palavra que em alemão é algo como infeliz, começa um casamento que fez valer o seu sobrenome.



Cara de sério dessas e o homem era Maria...


Ele nunca foi um marido tradicional e várias vezes abandonou a casa só retornando (muitas vezes alcoolizado) após ameaças de suicídio de Ada, que aguentava tudo por estar “casada com um artista”... posteriormente Ada e Mies tiveram três meninas... as quais ele também deixava em segundo plano, mas que em 1915 com o inicio da guerra ele deve ter agradecido à ela já que não foi convocado para o fronte de batalha por ser um pai de família.


Fim do primeiro capítulo... segue quando eu continuar a limpeza nos meus arquivos de professor...

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