terça-feira, 20 de outubro de 2009

Hungria, sob a sombra do terror (1)


O belo parlamento húngaro visto desde o castelo de Buda

Embarquei em Londres sem saber bem o que me esperava em Budapeste... eu não conhecia ninguém que já estivesse estado na capital húngara e até então eu nunca havia estado em um país que viveu sob o regime comunista.
Chegamos já era noite, achamos prudente pegar um táxi no aeroporto para irmos ao hostel.... o idioma húngaro é quase um código secreto... o básico acabei aprendendo: sör é cerveja; köszönöm é obrigado; sör é cerveja; bocsánat é desculpa; sör é cerveja e o resto não importa... se um dia tu pretendes ir até lá anota essas palavras porque saber falar inglês em um país que o suco de laranja tem gosto de suco de manga é algo que vai te ajudar pouco.

Placa qualquer só para praticar o idioma

Se tu estiveres procurando arquitetura contemporânea é melhor ires para Barcelona, mas se estiveres procurando uma cidade cheia de história Budapeste é o lugar.
E é sobre essa história que eu queria escrever... sem grandes detalhes, quem quiser mais informações os livros e o google estão ai pra isso...

Luta e sofrimento fazem parte da história do povo Húngaro... foi um dos primeiros países a ser invadido pela turma de Hitler... quase um quarto da população do país foi assassinada durante os 10 anos que os Nazistas estiveram por lá... e esses só saíram porque foram expulsos pelos Soviets... mas na saídeira destruíram o que conseguiram (pontes, prédios públicos, edifícios de apartamento... vi imagens da cidade destruída que arrepiam)...

Judeus enfileirados pelas ruas de Budapeste

Quando os russos tomaram a Hungria tudo era festa e motivo pra tomar uma sör... os judeus sobreviventes puderam voltar... o que os nazis destruíram eles começaram a reconstruir... mas devagarinho as garras de um regime tão cruel quanto o alemão começou a aparecer... se os nazistas defendiam uma limpeza étnica os comunistas defendiam uma rearranjo social, os campos de concentração viraram campos de trabalho e a SS deu lugar à AVO (a polícia política soviet)

A AVO foi responsável pelo seqüestro e muitas vezes assassinato de quase um terço da população húngara... se com os nazistas tu ia para um campo de concentração por ser Judeu (só estou simplificando, sei que ciganos, homossexuais, poloneses e outros também foram mandados para os campos...) com os soviéticos bastava tu ser contra o regime ou ser "inferior socialmente" que tu ia para um campo de trabalho (ou sumia), independente da tua raça, credo ou time de futebol.

Além disso houve a cortina de ferro... fronteiras fechadas... fim de relações comerciais com países capitalistas... a economia do país entrou em colapso e a população vivia sob a sombra do terror de um regime que colocou uma estrela no centro da bandeira do país, tatuando no nela um dos seus símbolos.

Bandeira tatuada

Em outubro de 1956 mais de 20 mil estudantes fizeram uma manifestação pedindo o fim das atrocidades do regime ditadorial... nessa manifestação apareceu uma bandeira com o seu centro rasgado a faca... não preciso dizer que os comunistas não gostaram do tumulto e abriram fogo contra a multidão inclusive usando tanques de guerra...

O dos muitos monumentos que tem na cidade relacionados a revolucão de 56, presta atenção na bandeira

Diante dessa barbárie os 20 mil viraram 200 mil e rapidamente virou uma revolução. No dia 30 de outubro o governo vigente foge para a Rússia.

O novo regime dissolve (dissolve é uma palavra gentil) a polícia política, liberta prisioneiros, rasga a adesão ao pacto de Varsóvia e pede proteção da ONU. Os Estados Unidos fingem que não é com eles... e Moscou com medo de que esse espírito de revolução se espalhe pelos seus domínios envia centenas de tanques e aviões para um ataque surpresa à Budapeste.

Breve vitória do povo húngaro

Os Húngaros tentam reagir ao novo ataque, mas no dia 10 de novembro os Russos declaram vitória militar e se orgulham de ter assassinado mais de 20 mil pessoas e terem perdido apenas 720 soldados.

Tanques soviets pelas ruas de Budapeste

O regime comunista seguiu matando, torturando e perseguindo os "traidores" até o 1.989. Em 1.991 os russos finalmente abandonam o país e Gorbachev pediu desculpas ao povo húngaro.

Deste 1.991 o país se reestrutura... a adesão à união européia se deu em 2.004... o Euro deve se tornar a moeda oficial nos próximos 5 ou 6 anos... mas as cicatrizes de uma tatuagem tirada com a lâmina de uma faca ainda são visíveis e não parece que os húngaros queiram escondê-las.

Belíssimo monumento em comemoração aos 50 anos da revolução de 56, se alguém souber o autor eu agradeço


Em um próximo post eu vou falar sobre como eu fiquei conhecendo essa batalhada história do país onde o suco de laranja tem gosto de manga.


CONTINUAÇÃO:

4 comentários:

  1. Sinceramente, comparar o governo soviético na Hungria (onde também já estive) com o nazismo? Qual é a sua fonte de informações, a Wikipedia?

    ResponderExcluir
  2. Campeão, espero que tu também tenha gostado de conhecer a Hungria, um belo país... apesar do suco de laranja ter gosto de manga.

    Com um pouco de atenção tu vais reparar que em momento algum eu comparo ou tento fazer qualquer tipo de equivalência entre o regime nacional-socialista e o comunismo, o que eu faço é traçar um paralelo... tentando mostrar que os crimes e atrocidades cometidos pelo regime comunista não foram menos graves que os cometidos pelo nazismo.

    Para que não tenhamos novamente episódios parecidos é importantíssimo mantermos viva a memória do que foi a realidade sob o regime nacional-socialista... e da mesma forma é importante mostrarmos o quão cruel foi o regime comunista.

    A Hungria sobreviveu a dois regimes de terror.

    Quanto à fonte, tudo que escrevi até agora esta baseado no material escrito que trouxe do memorial dedicado às vitimas de ambos regimes, o Terror Hazá... e te digo, lendo o sério material produzido pelos Húngaros eles condenam igualmente os dois regimes... mas não escondem que as atrocidades cometidas pelos soviets na Hungria foram mais sentidas do que as cometidas pelos alemães.

    abraço
    luciano

    ResponderExcluir
  3. Eis que, navegando a esmo, e procurando estreitar os laços com uma das meninas mais queridas de meus olhos, Hungria... Deparei-me com um texto pra lá de pedagodescolado (se me permite, o neologismo), atravessado por uma narrativa que remete tamanho acolhimento e transforma, qualquer mero mortal, do mais ao menos informado, em um fascinado caminhante pela ruas de Budapeste...
    Um encanto de narrativa...
    Não desconsidero o teor do intuito de retratar olhares arquitetônicos, contudo, encantei-me com o ritmo do contar da história e a postura não acadêmica, quase fabulosa... Não resistindo ao teclado, aos dedos e a vontade de, aqui me manifestar, aqui estou!
    Agradeço a ti, pela oportunidade do prazer que me ofertou com tuas palavras. E, confesso, que adicionei de pronto, teu blog aos meus favoritos, assim que terminei de passear contigo entre tuas imagens e letras...
    Caminharei por ele vez por outra, em busca de acolhida em noites insones e dias nostálgicos, encontrando certamente o conforto em tuas histórias...
    Um cordial abraço em agradecimento pelo teu afago despretensioso, em palavras,
    Simone Barbosa.

    ResponderExcluir
  4. Simone, lindas palavras... mais bonitas e interessantes que os nossos textos!

    Se tu deres uma garimpada no arquivo do blog tu vais encontrar mais textos não arquitetônicos e tri simpáticos.

    abraço e obrigado novamente, me deixaste super faceiro.
    luciano

    ResponderExcluir