segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Olhando para o outro lado... do mundo.

Kirin Plaza, Osaka (1987)


Meu cunhado tem o saudável hábito de adquirir filmes em DVD, ao invés de somente consumí-los como que mercadoria descartável, pegar na locadora, ver, devolver... pronto. E o faz com títulos que considera significativos, principalmente com muita coisa dos anos 80, década por cuja cultura compartilhamos da mesma admiração. Freqüentemente, quando o visitamos, assaltamos sua DVDteca, e na última remessa, levamos pra casa seu recentemente adquirido "Chuva Negra" ("Black Rain", EUA 1989). Trata-se de um ótimo thriller policial, com Michael Douglas e um iniciante Andy Garcia como protagonistas, dois policiais nova-iorquinos que recebem a ingrata missão de escoltar um assassino japonês de volta a Osaka. Lá chegando, são ludibriados e o prisioneiro escapa, levando-os a ter contato com o perigoso submundo da Yakuza, a máfia japonesa, além de encararem o choque de realidade entre a rigidez e perfeccionismo da polícia japonesa, a contrastar com seu desleixo e desprendimento. Enfim, não vim aqui contar o filme, mas fica a dica em mais um "semi-momento" pipoca. Ridley Scott faz, em termos estéticos, uma espécie de "revival" de uma de suas obras-primas, "Blade Runner", mostrando uma Osaka escura e enfumaçada, explorando cenários industriais, soturnos e sombrios.

Ocorre que parte da ação se passa no luxuoso Kirin Plaza, hotel no centro de Osaka, projetado por Shin Takamatsu e concluído em 87, edifício de incomum e intrigante beleza, que reconheci de imediato. Takamatsu, embora não tão conhecido como outros conterrâneos como Arata Isosaki, Toyo Ito, Tadao Ando, Kenzo Tange ou Hiroshi Hara, é um dos mais proeminentes representantes da arquitetura japonesa. Despontou para o mundo no auge do pós-modernismo, período que se reflete no ultraje da forma supreendente deste hotel de luxo, um objeto de design refinado por dentro e por fora, que, sem deixar de fazer referência a alguns elementos da arquitetura tradicional japonesa, antecipa em mais de 20 anos a tendência dos "design hotels", hoje uma febre, assinados por figurinhas carimbadas como Starck e cia.
Takamatsu me foi apresentado nos assessoramentos de Composição de Arquitetura II, no longínquo 1995, pelo prof. Rufino Becker, que chamou a atenção principalmente para um recuruso incomum ao qual recorria com certa freqüência: O estabelecimento de um eixo de simetria horizontal na fachada da edificação, que criava uma espécie de "golpe de vista", replicando, a partir de uma certa altura, elementos que nasciam do chão com o edifício. Esta mesma composição pode ser vista em outras obras de Shin Takamatsu do mesmo período, embora sua produção a partir da década de 90 tenha assumido contornos neo-modernos, em seguimento à tendência mundial, embora sem deixar de causar surpresa e espanto com formas inusitadas e por vezes um certo exagero, herança de um passado pós-moderno que insiste em se manifestar.
Mais sobre o cara: http://www.takamatsu.co.jp/
Querendo se hospedar, exercite seu japonês: http://www.kirin.co.jp/

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