quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Verdes são as matas...

Durante o período que as traças tomaram conta do blog eu acompanhei interessantes apontamentos em blogs amigos sobre a questão da sustentabilidade na arquitetura... e vergonhosamente atrasado (isso é só para reforçar o meu remorso por tanto tempo longe do blog) eu também quero dar o meu pitaco e me permitir algumas referências.... atrasadas ou nem tanto...

Não acredito muito em selos e associações, mas sou membro do USGBC (U. S. Green Building Council) por um motivo profissional, desenvolvo projetos de edificios para uma incorporadora que recentemente passou a trabalhar muito com o conceito de Greenbuilding, unindo o util ao agradável... uma diferenciação mercadológica, uma imagem de bom moço e de lambuja ajudando a minimizar os impactos ambientais....

...porém nem tudo (ou poucas coisas...) são flores nesse mundo....

A questão de sustentabilidade ainda engatinha e o que está sendo feito, pelo menos no Brasil, é explicitar algumas coisas básicas (aproveitamento da água da chuva, uso de energia solar, coberturas verdes, vidros duplos, orientação solar adequada, preservação de solo permeável, uso de materiais com baixo impacto ambiental... etc, etc, etc...) e carimbar um selo denominando prédio verde... para mim isso é pouco.

Quando meus alunos de projeto aparecem com um projeto e para justificar que é um projeto bom começam: "olha como está bonito (?).... as circulações estão bem resolvidas.... a linguagem é adeaquada.... as questões técnicas foram todas contempladas...." eu escuto e respondo para eles, "um projeto bem resolvido é o mínimo que se pode esperar, isso é oxigênio... é básico!"....

E foi assim que o mestre Souto de Moura se colocou perante a questão da sustentabilidade em entrevista ao jornal El Pais no ano passado* (http://www.elpais.com/articulo/arte/buena/arquitectura/lleva/implicito/ser/sostenible/elpepuculbab/20070630elpbabart_9/Tes):

P. ¿Piensa que la sostenibilidad es un problema de ricos?

R. Es un problema de malos arquitectos. Los malos arquitectos se organizan siempre con temas secundarios. Dicen cosas del tipo: la arquitectura es sociología, es lenguaje, semántica, semiótica. Inventan la arquitectura inteligente -como si el Partenón fuese estúpido- y ahora, lo último es la arquitectura sostenible. Todo eso son complejos de la mala arquitectura. La arquitectura no tiene que ser sostenible. La arquitectura, para ser buena, lleva implícito el ser sostenible. Nunca puede haber una buena arquitectura estúpida. Un edificio en cuyo interior la gente muere de calor, por más elegante que sea será un fracaso. La preocupación por la sostenibilidad delata mediocridad. No se puede aplaudir un edificio porque sea sostenible. Sería como aplaudirlo porque se aguanta.

Passado um ano o australiano Glenn Murcutt, vencedor do Pritzker em 2002, em entrevista publicada pelo argentino La Nación (http://www.lanacion.com.ar/nota.asp?nota_id=1041299) reforça:

...-La sustentabilidad se ha transformado en una frase hecha. Todo el mundo habla de la arquitectura sostenible y a la mayoría no le importa dónde está el sol y menos de dónde viene el viento. ¿Cómo pueden hablar de eco arquitectura si no saben en qué latitud y altitud van a trabajar? Si uno no entiende esto, no entiende cómo construir según las verdaderas técnicas ecológicas. Pero lo más importante es que realmente debe ser arquitectura bella, ya que puedes hacer todo lo que te dije que hace falta y producir muy mala arquitectura. La mayoría de la arquitectura llamada ecológica es horrible, y esto ocurre porque no está integrada verdaderamente la ecología al pensamiento del que construye, y de ecoarquitectura solamente lleva el nombre....

...Sólo puedo decir que soy un pequeño arquitecto que trabaja solo y de una forma muy sencilla, sin fax, ni celular, ni correo electrónico, y tratando de hacer mías las palabras de Henry David Thoreau: "Las cosas que hacemos, mayormente ordinarias en la vida común, debemos hacerlas extraordinariamente bien y que puedas andar por la vida sin que nadie sepas quién eres". Ahí reside un secreto: trabajar en forma silenciosa y tranquila, y después, quizá conseguir una buena sorpresa. Nadie en Australia sabe qué hago ni conoce mis obras; entonces, de este modo, tampoco me proyecto a mí mismo, sólo cuando llega el momento. Hoy en el mundo hay mucha talkitecture . Mejor, no hables de sustentabilidad... ¡sólo hazlo!


No final das contas, a dita sustentabilidade deveria ser vista como oxigênio por todos os arquitetos, mas como (ainda) não é eu fico com o bom amigo Fernando Lara, que encerra seu texto Verde Corporativo (http://parededemeia.blogspot.com/2008/04/verde-corporativo.html) dizendo**:

"...Mas não é muito melhor ter reciclagem de água e materiais reciclados como marketing ao invés de fachadas neo-neoclássicas e vidros espelhados que tornam a calçada oposta 5o mais quente?"

*Esse mesmo trecho da entrevista do Souto de Moura foi conteúdo no ótimo blog anteprojeto(s) - http://anteprojetos.blogspot.com/2008/02/insustentvel-sina-do-arquiteto.html

** Fernando, desculpa usar novamente tuas palavras sem pedido prévio... sabes que se quiseres é só avisar que eu retiro.

2 comentários:

  1. oi Luciano,

    Eu concordo plenamente com o Murcutt quando ele fala de "talkitecture". É o que mais tem por aqui.

    E sobre o post do Siza em POA, o gesso acartonado é frustrante sim, mas eu adoraria ver como é a relação entre o edifício e as obras do Iberê, isso sim pode justificar ou condenar o silicone. Ainda não ví isso em nenhuma revista, acho que vou ter de ir a POA ano que vem e ver ao vivo.

    Abraços,

    Fernando

    ResponderExcluir
  2. Fernando, tu és muito bem vindo em Porto Alegre, tem até quarto sobrando lá em casa... e mesmo que as revistas tratassem disso, ainda assim valeria a visita ao prédio do seu Siza...

    Mas enquanto tu não vens, eu vou preparar um post sobre isso, não sou a melhor pessoa para tratar disso, mas vou tentar...

    abraço,
    luciano

    ResponderExcluir