Daniel Libeskind em Porto Alegre - antes tarde do que nunca...

Esse post é sobre a palestra do Daniel Libeskind em Porto Alegre, a palestra foi há um mês atrás e ao invés de eu escrever um ou dois dias depois, eu fui empurrando com a barriga e agora já não lembro bem tudo o que eu queria escrever... já comentei no post das preliminares o contexto da palestra do Libeskind em Porto Alegre e também a peculiar atuação do mestre de cerimônias, agora vou falar do que mais interessa, a palestra propriamente dita.
Vestindo um clássico uniforme de starchitect, terno preto sobre camiseta preta, Libeskind começou sua conferência elogiando a cidade de Porto Alegre e principalmente demonstrando encantamento pela Fundação Iberê Camargo... após isso ele puxou uma primeira e em uma velocidade estonteante ele mostrou variados projetos que ele realizou por vários países, alguns projetos bacanas outros nem tanto... e para quase todos os projetos ele mostrou croquis, cortes, fotos internas e externas...
O primeiro projeto mostrado foi o do museu judaico em Berlim... quando ele pela primeira vez na noite (primeira de 837 vezes...) ele destacou a importância da arquitetura gerar surpresa e provocar sensações... Dramatic!!! Com um discurso envolvente ele seguiu o seu show de imagens até terminar a palestra com o projeto para o Ground Zero ou Memory Foundations... quando ele se antecipou a sabatina sobre as mudanças no seu projeto inicial e comparou um grande projeto com uma orquestra onde o maestro deve coordenar os movimentos de todos mas não é capaz de tocar todos os instrumentos... e que democraticamente um projeto de tamanha importância deveria atender a diversos interesses diferentes... e para finalizar ele fez de conta que toda a platéia era cega e mostrou um croqui do seu projeto vencedor do concurso e depois mostrou uma perspectiva de como ele está após a entrada do SOM na jogada, como responsáveis pelo projeto da torre principal, e teve a cara de pau de dizer que a versão atual é muito parecida ao seu projeto vencedor do concurso... claro que ele não deixou de enfatizar o desenho original da freedom tower fazendo relação à estátua da liberdade... (coisa que o pessoal do SOM resolveu que não era importante, que o importante mesmo é o prédio ser “à prova” de atentados...)
Terminado o show de imagens com um discurso empolgado e após um longo e caloroso aplauso começou a sessão de perguntas.... não vou comentar que a maioria delas eram terríveis, algo do tipo “o senhor gostaria de fazer um projeto em Porto Alegre?” ou “o senhor poderia dar alguma idéia para a nossa abandonada área portuária?” e ainda “qual o seu processo criativo?”.... para esta última ele respondeu na lata “não faço idéia...”
Nas suas respostas novamente ele comparou arquitetura com música, para quem não sabe ele toca(va) violino, e seguiu com um discurso positivo e com algumas tiradas boas e outras previsíveis, como quando lhe foi perguntado se ele era um deconstrutivista e ele respondeu que não, pois um arquiteto deve sempre construir e não o contrário... e também soube se esquivar quando perguntado se a arquitetura que ele faz é viável em países pobres e ele respondeu que independente do país todos merecem boa arquitetura...
No final das contas foi uma boa palestra, os estudantes saíram motivados e extasiados... os professores sairam com a preocupação de como explicar para os alunos que arquitetura é mais do que formas arrojadas e que deve ser levado em consideração o entorno, a materialidade, uma boa implantação... alguns dinossauros saíram achando que o que ele faz não é arquitetura, já que não tem pilotis, terraço jardim, janelas em fita... alguns foram e não gostaram.... outros não foram e também fizeram questão de não gostar....
E eu... eu saí feliz, fazia tempo que não via alguém falar de arquitetura de forma leve e descontraída, sem ficar procurando problemas em tudo, sem querer criticar deus e o mundo... simplesmente fazendo seu trabalho da melhor forma que acredita ser possível e sendo feliz com isso... sendo feliz com o caminho e a linguagem que ele trilha com grande competência... acho que devemos tomar cuidado para não esquecer que arquiteto também pode (e deve) ser feliz.
Credo... mais demonstrações explícitas de "portocentrismo", ou seja, achar que Porto Alegre é o centro do mundo e que todo ele (o mundo)se preocupa com os problemas crônicos e insolúveis que a assolam... Ah, esses conterrâneos... tsc, tsc.
ResponderExcluirVajamos... se eu estivesse em uma palestra e me perguntassem se eu gostaria de fazer um projeto em Krasnoyarsk,Sibéria, eu responderia sim. E diria... humm... que edificações de uso misto e arquitetura sustentável seriam a salvação da orla. Pronto.
Ah... Krasnoyarsk não tem orla? foi mal.