sábado, 29 de novembro de 2008

Daniel Libeskind em Porto Alegre - antes tarde do que nunca...

É impressionante a capacidade que eu tenho em me atrapalhar e deixar coisas simples se transformarem em coisas não tão simples... na boa, a dona Dora (senhora minha mãe) devia ler para mim, quando eu era piá novo, só as histórias do Pateta... e eu devia gostar muito porque cresci e virei um Patetão....

Esse post é sobre a palestra do Daniel Libeskind em Porto Alegre, a palestra foi há um mês atrás e ao invés de eu escrever um ou dois dias depois, eu fui empurrando com a barriga e agora já não lembro bem tudo o que eu queria escrever... já comentei no post das preliminares o contexto da palestra do Libeskind em Porto Alegre e também a peculiar atuação do mestre de cerimônias, agora vou falar do que mais interessa, a palestra propriamente dita.

Vestindo um clássico uniforme de starchitect, terno preto sobre camiseta preta, Libeskind começou sua conferência elogiando a cidade de Porto Alegre e principalmente demonstrando encantamento pela Fundação Iberê Camargo... após isso ele puxou uma primeira e em uma velocidade estonteante ele mostrou variados projetos que ele realizou por vários países, alguns projetos bacanas outros nem tanto... e para quase todos os projetos ele mostrou croquis, cortes, fotos internas e externas...

O primeiro projeto mostrado foi o do museu judaico em Berlim... quando ele pela primeira vez na noite (primeira de 837 vezes...) ele destacou a importância da arquitetura gerar surpresa e provocar sensações... Dramatic!!! Com um discurso envolvente ele seguiu o seu show de imagens até terminar a palestra com o projeto para o Ground Zero ou Memory Foundations... quando ele se antecipou a sabatina sobre as mudanças no seu projeto inicial e comparou um grande projeto com uma orquestra onde o maestro deve coordenar os movimentos de todos mas não é capaz de tocar todos os instrumentos... e que democraticamente um projeto de tamanha importância deveria atender a diversos interesses diferentes... e para finalizar ele fez de conta que toda a platéia era cega e mostrou um croqui do seu projeto vencedor do concurso e depois mostrou uma perspectiva de como ele está após a entrada do SOM na jogada, como responsáveis pelo projeto da torre principal, e teve a cara de pau de dizer que a versão atual é muito parecida ao seu projeto vencedor do concurso... claro que ele não deixou de enfatizar o desenho original da freedom tower fazendo relação à estátua da liberdade... (coisa que o pessoal do SOM resolveu que não era importante, que o importante mesmo é o prédio ser “à prova” de atentados...)

Terminado o show de imagens com um discurso empolgado e após um longo e caloroso aplauso começou a sessão de perguntas.... não vou comentar que a maioria delas eram terríveis, algo do tipo “o senhor gostaria de fazer um projeto em Porto Alegre?” ou “o senhor poderia dar alguma idéia para a nossa abandonada área portuária?” e ainda “qual o seu processo criativo?”.... para esta última ele respondeu na lata “não faço idéia...”

Nas suas respostas novamente ele comparou arquitetura com música, para quem não sabe ele toca(va) violino, e seguiu com um discurso positivo e com algumas tiradas boas e outras previsíveis, como quando lhe foi perguntado se ele era um deconstrutivista e ele respondeu que não, pois um arquiteto deve sempre construir e não o contrário... e também soube se esquivar quando perguntado se a arquitetura que ele faz é viável em países pobres e ele respondeu que independente do país todos merecem boa arquitetura...


No final das contas foi uma boa palestra, os estudantes saíram motivados e extasiados... os professores sairam com a preocupação de como explicar para os alunos que arquitetura é mais do que formas arrojadas e que deve ser levado em consideração o entorno, a materialidade, uma boa implantação... alguns dinossauros saíram achando que o que ele faz não é arquitetura, já que não tem pilotis, terraço jardim, janelas em fita... alguns foram e não gostaram.... outros não foram e também fizeram questão de não gostar....

E eu... eu saí feliz, fazia tempo que não via alguém falar de arquitetura de forma leve e descontraída, sem ficar procurando problemas em tudo, sem querer criticar deus e o mundo... simplesmente fazendo seu trabalho da melhor forma que acredita ser possível e sendo feliz com isso... sendo feliz com o caminho e a linguagem que ele trilha com grande competência... acho que devemos tomar cuidado para não esquecer que arquiteto também pode (e deve) ser feliz.

Um comentário:

  1. Credo... mais demonstrações explícitas de "portocentrismo", ou seja, achar que Porto Alegre é o centro do mundo e que todo ele (o mundo)se preocupa com os problemas crônicos e insolúveis que a assolam... Ah, esses conterrâneos... tsc, tsc.

    Vajamos... se eu estivesse em uma palestra e me perguntassem se eu gostaria de fazer um projeto em Krasnoyarsk,Sibéria, eu responderia sim. E diria... humm... que edificações de uso misto e arquitetura sustentável seriam a salvação da orla. Pronto.

    Ah... Krasnoyarsk não tem orla? foi mal.

    ResponderExcluir